quinta-feira, 30 de dezembro de 2010

Seu Lourenço

Mas eu ia mesmo era contar do Seu Lourenço, não era?

Ao entrar no ônibus sentido Curitiba, não pude deixar de reparar no senhorzinho que ia ao meu lado. Senti vontade de fotografá-lo (e foi quando percebi que havia colocado na mochila o carregador de pilhas, mas não a máquina de fotografar), também adoraria desenhá-lo, mas como não o sei fazer, só me resta tentar descrever.

A figura basicamente chamava a atenção pela barba branca e a idade avançada, era baixinho e tinha um jeito um tanto clássico ao mesmo tempo que caipira, vestia uma roupa social simples e segurava o tempo todo o chapéu na mão, repousado no colo.

Quando dormia tinha a impressão de que respirava com dificuldade. No começo fiquei preocupada e até pensei em pedir que me avisasse se não se sentisse bem, mas logo acostumei. Afinal, o que poderia eu fazer?

As 9h da manhã quando voltamos da parada me apresentei e proseamos um tanto.

Estava decidido a deixar São Paulo onde teve uma loja por diversas vezes assaltada para voltar a morar em Curitiba.

Segundo contou, a mulher casou com outro e mandou matá-lo, mas não quis que a mãe dos filhos fosse presa. A perdoava e queria poder cuidá-la como sempre havia feito. Dizia que quando nos fazem o mal, devemos sempre retribuir com o bem. Também contava com orgulho do cuidado que tinha com os filhos.

Disse a ele que a passagem de avião estava muito barata, sugerindo que fizesse o trajeto desta forma, ao que me respondeu que da outra vez que foi de avião, houve dificuldades no pouso por uma das turbinas ter pegado fogo e, segundo contava, a gritaria da mulherada o havia perturbado tanto – mais do que o pouso e o fogo – que havia decidido não mais viajar de avião. Achei muita graça! A decisão, no entanto, parecia estar sendo revista considerando que em avião chegaríamos em 40 min, e não em 12 horas como estava acontecendo aquele dia por conta da estrada.

Depois de um tempo e várias conversas, decidi pegar o livro para estudar, procurando evitar que começasse a falar de sua religião e também que atrapalhássemos os demais a voltarem a dormir. Mas gostei muito da prosa. Figurássa o Seu Lourenço.

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