terça-feira, 1 de maio de 2012

Do cansaço que a preguiça me dá

Me olho no espelho e… puxa vida!
Que preguiça que me dá da vida!
Onde é que eu estava com a cabeça quando resolvi reencarnar?
Quem foi que foi me dar esse conselho???
(ou será que fui eu que bati o pé?)
E o pior (ou melhor) é que nem posso reclamar.
Tenho todo o apoio do mundo pra continuar!
Mas... que preguiça, agravada de culpa, que me dá!

Me olho em outro espelhos...
não adianta. meus olhos estão tão vermelhos.
Procuro uma justificativa para tanto cansaço
Vou ter que me render, que saco!
Cadê minha escova de dentes?
Puxa vida! Até o fim da vida vou ter que escovar os dentes?
Todos os dias? Apesar de que até aí, tudo bem...
O terrível mesmo é ter que passar fio dental – todos, todos os dias!

Machuquei o braço batendo uma blusa de lã no ar
Pra expulsar o pai dos meus gatos, invasor e ingrato!
Ele e o mais velho não se bicam, e ele insiste em entrar e perturbar.
A mãe deles brigou com o pai um dia e nunca mais voltou...
Será que ela se feriu na briga e morreu? :(
Nesse caso, a Lei Maria da Penha se aplicaria?
Mesmo tento sido ela a que partiu pra cima?

Queriam tirar meu juízo...
Mas meus olhos devem ter dito não imediatamente.
Me explicaram então que concertar era difícil, mas...
Que podia escovar com uma escovinha mini!
Ela é fantástica! Graças à tecnologia não vão poder tirar meu juízo!
Desde que, claro, eu não esqueça de fazer a manutenção.

Machuquei meu braço e minha asa! Droga!
Como vou trabalhar desse jeito?
Aliás, eu poderia recorrer a Lei Maria da Penha, não?
Afinal de contas, me machuquei tentando expulsar o filho da mãe!
Sim... é o próximo tema a ser debulhado.
Mas será só amanhã - que remédio?

Não devia nem estar escrevendo isto.
Mas como reclamo! E como me irrito de me ouvir reclamando!
Uma menina mimada! É isso que pareço!
...
Será que o meu problema é o excesso de juízo?
Juízo de mim mesma, que faço e refaço?
Será que tenho concerto?
Ou vou morrer cansada de mim mesma?

Me olho no espelho e lembro do que um amigo me ensinou:
A dizer todos os dias que “estou feliz”!
Convencer o subconsciente.
É o que minha mãe faz há anos!
Mas me olho no espelho, de olhos vermelhos e...
Seria só mais uma hipocrisia a me lembrar de todas as demais!

Êpa! Mas outro amigo me ensinou uma receita que achei interessante:
“hoje foi melhor que ontem, e amanhã será melhor que hoje”
Se repetir isso a cada passada de fio dental, quem sabe funciona?
Aliás, se me dissesse isso cada vez que digo que quero parar os remédios...
Talvez já estivesse realmente melhor!

Há quem diga que sou imediatista.
Eu digo que três meses não é imediatismo – que já estaria bem por conta própria.
Mas... eu sempre tendo ao caminho mais difícil, fazer o quê?
Bom, vou experimentar a nova receita. Quem sabe? Quem sabe?
Amanhã conto se funcionou! =]

sábado, 21 de abril de 2012

Síndrome de Pequena Sereia

Sempre, sempre, sempre fui apaixonada por água! Desde pequena! Não importa se da chuva, do rio ou do mar, da torneira, do chuveiro, da bica ou da mangueira.

Apesar de não saber nadar, se tem um lugar em que me sinto bem, é debaixo d’água!

Frustração não saber nadar sim, mas pensava comigo que era porque Deus não dá asas à cobra, pois se soubesse nadar, iria embora mar adentro, talvez, pra nunca mais voltar!

Mas agora que estou de licença para tomar juízo e apertar os parafusos... pode ser um bom momento para assumir esse desafio maravilhoso! Quem sabe?...

Lembro da euforia que sentia em Veneza, vendo água para todos os lados! Era minha casa! Ficava me imaginando nadando feito sereia! Ao menos sonhar a mente nos permite... e só isso já faz tanto bem! :)

Mas o que me inspirou foi esta semana ter encontrando uma música que certamente não ouvia há muitíssimo tempo, mas que era familiar, além de perfeitamente perfeita - tanto no que diz, quanto no como a melodia e instrumentos o enfatizavam!




Debaixo d'água (Arnaldo Antunes) 
"Debaixo d'água tudo era mais bonito
Mais azul, mais colorido
Só faltava respirar
Mas tinha que respirar
Debaixo d'água se formando como um feto
Sereno, confortável, amado, completo
Sem chão, sem teto, sem contato com o ar
Mas tinha que respirar
Todo dia
Todo dia, todo dia
Todo dia
Todo dia, todo dia
Debaixo d'água por encanto sem sorriso e sem pranto
Sem lamento e sem saber o quanto
Esse momento poderia durar
Mas tinha que respirar
 
Debaixo d'água ficaria para sempre, ficaria contente
Longe de toda gente, para sempre no fundo do mar
Mas tinha que respirar
Todo dia
Todo dia, todo dia
todo dia
Todo dia, todo dia
Debaixo d'água, protegido, salvo, fora de perigo
Aliviado, sem perdão e sem pecado
Sem fome, sem frio, sem medo, sem vontade de voltar
Mas tinha que respirar
Debaixo d'água tudo era mais bonito
Mais azul, mais colorido
Só faltava respirar
Mas tinha que respirar
Todo dia”
Não dá vontade de mergulhar e, num passe de mágica, não precisar mais respirar?! Para mim, é absolutamente perfeita! Sinto que alguém me entende nesta vida!

E foi aí que lembrei de um detalhe na minha história que fez toda a diferença:

Que ter que respirar (todo dia!) sempre foi algo muito cansativo pra mim. Nunca gostei dessa obrigação! Tanto que, quando nasci, me recusava até ficar roxa! Aí... minha magnífica mãe me levou no mar e me afogou até eu concordar em voltar a respirar!

E foi assim que ganhei outra mãe, pois a Rainha do Mar não podia acreditar no que via e resolveu então me adotar! E por isso sou assim, mimada até o fim! rsrs... ;)

domingo, 25 de março de 2012

¡Buenos Aires! – parte I

Apesar de inicialmente ter me empolgado com a idéia e até ter incentivado algumas pessoas, decidi que não ia, por mais tentador que fosse.

Conhecer Buenos Aires nunca tinha sido um sonho, era fogo de palha porque meus professores de tango estavam indo e estava muito barato. No entanto, como fui deixando pra decidir depois, já sabia que em cima da hora não rolaria.

Mas a questão é que tinha que acontecer. E faltando poucos dias surgiu uma super promoção: dividindo no cartão, se tornava viável e, como não tinha tempo pra pensar... em 15 minutos minha passagem estava comprada!

Meus professores estariam em um hostel (albergue), mas como a fresca aqui não queria ter que dividir banheiro, decidi que deixaria a bagagem com eles e procuraria um hotel próximo. Mas já sabem, né? Nada na minha vida é sem emoção!

O endereço deles era tão fácil que nem anotei e... sim, não os encontrava e comecei a duvidar da minha memória. Fiz amizade com o taxista (Rudolfito) que foi muito gente boa comigo, só que uma hora disse que teria que me deixar para buscar a esposa. Por sorte a mala era pequena e tinha rodinhas e, poxa, tinha que ser por ali!

Fiquei rodando horas, aproveitava para procurar também o “meu lugar”, mas o banheiro sempre era compartilhado e eu nunca gostava muito do quarto.

Em um deles, o “Entre Libros” a moça foi super amável e procurou o endereço dos meus amigos: minha memória não estava errada! Ela explicou como chegar e resolvi voltar ao lugar outra vez. Mas, não sei por que, apesar de ser tão simples e estar tão perto, sempre me perdia!

Quase decidi ficar só aquela noite em um hotel todo luxuoso, só pra poder largar a bagagem, correr para avisar que estava bem e voltar para descansar. Mas entre procurar o hotel caro e o hostel, depois de descansar um pouco (perto da Mafalda!), resolvi procurar um pouco mais o danado do escondido e finalmente os encontrei!

A porta do Hostel Chipre era pequena e ficava ao lado de outro muito grande que chamava muito mais atenção, por isso quando fui a primeira vez não o vi. Entrei e até havia um quanto com banheiro, mas gostei mais da parte térrea que tinha uns espaços de convívio com mesas e plantas bem na frente dos quartos. Ali também estaria ao lado do quarto do Julio e da Adriana, além de ser mais barato. Tinha lá suas falhas, mas gostei muito do lugar!


Estava extremamente cansada e com muito sono, não tinha dormido praticamente nada na viagem! Nossos visinhos de quarto que eram de Mérida iam com a gente e de cara gostei muito deles. Eram familiares, receptivos, agradáveis... não tive escapatória! Afinal, estava em Buenos Aires! Fui para a primeira de muitas milongas...



...mas conto como foi/foram depois, prometo! ;)

quarta-feira, 21 de março de 2012

Usando drogas sim.



Estou ensaiando faz tempo para contar isso aqui. Não me orgulho não, mas estou usando drogas sim. E sem querer parecer clichê mas, de fato, a fase mais difícil é reconhecer que o problema existe e precisa ser encarado.

Lembro que um tempo depois que comecei a trabalhar na UBS, sabendo que boa parte dos funcionários tomava anti-depressivos, falei para o meu amigo com a boca cheia, alto e em bom som: “Eu NUNCA vou me drogar como vocês!”...

Mas a gente paga a língua! Algumas das pessoas que me acompanhavam mais de perto, conviviam e conheciam melhor, começaram a sugerir que eu procurasse um tratamento psiquiátrico. Mas eu me recusava plenamente, só aceitei tomar algo natural, e comecei com o Ginsen Brasileiro.

Sempre fui contra esse uso excessivo de remédios controlados.

Mas... depois de passar alguns meses em um trabalho que só me sugava e esgotava, ter alguns fortes problemas na família, e ter meu pedido de transferência ou liberação para exercício de cargo em outra Secretaria negado... quando chegaram as férias (com as quais não consegui descansar nada), fiquei sem meus apoios extras (psicanálise, terapias integradas, centro cardesista...) e não guentei segurar o rojão.

Sentia tontura, falta de ar, enjôos do nada. O coração batia de um jeito que chegava incomodava. Revoltava e chorava rios pelo menos duas vezes por semana, e se antes sentia que saía das deprês mais forte, agora eu já mal saía... "ficava na porta" até mesmo porque sabia que logo voltaria tudo de novo.

Sentia tudo, mas supostamente não tinha nada. A médica (que amo!) pediu uma bateria de exames (me tiraram 14 tubos de sangue!), mas na ocasião já disse com todas as letras que achava que eu precisava de remédios psiquiátricos sim.

Não sei se tomar remédios é a melhor solução. Na verdade, acho que não. Acho que poderia me curar perfeitamente se não tivesse que ir para um trabalho que me fazia mal e tivesse tempo de cuidar de mim e da minha saúde devidamente por um tempo. Mas, enquanto isso... quem segura as pontas?

No lugar de parar para nos recuperarmos, tomamos as “mágicas” drogas da medicina para trabalhar sem parar. E assim o capitalismo vai se mantendo, mais e mais. Não queria fazer parte disso, queria mesmo achar a força interna que tinha antes, mas me escapa. : /

É muito estranho tomar essas coisas... tem que tomar um para se sentir disposto e outro para poder acalmar ou dormir. São muitos dias perdidos na adaptação (e isso me irrita!). Fora a piração interna que dá na perguntação constante do que esses remédios estão fazendo comigo. O que vem de mim e o que vêm deles, sabe?

Os primeiros dias são sempre mais difíceis, antes pensava muito em parar, agora diminuiu um pouco. Mas apesar de tudo isso, me fiz um propósito de tentar aceitar essa “ajuda” porque precisava mesmo fazer algo que me tirasse do ponto em que havia travado.

Recusar, era um risco que considerei não ser adequado assumir no momento. Estava no limite e não podia me dar ao luxo de enlouquecer de vez - ao menos não por enquanto.

Não sei se dará certo, se terá o resultado que quero, mas se não tentar, não terei como saber. O único que tenho certeza, é que será por pouco tempo. Espero poder parar antes do final do ano. É uma das minhas metas. Vediamo! :)


O lado bom é poder ficar afastada do que me fazia mal e de justamente ter que fazer coisas que gosto para melhorar! =)

O lado complicado é que às vezes passo mal na rua, por isso sinto cada vez menos vontade de sair de casa, onde não fico exposta e me sinto segura. Estou me esforçando para estabelecer uma rotina e me reorganizar, é todo um processo, mas vou chegar lá!

Muito mais para falar e refletir sobre isso, mas hoje paro por aqui.

E se alguém quiser passar em casa pra fazer visita, conversar, bagunçar, etc, etc... é só avisar! Provavelmente estarei aqui - com a benção de mainha: cada dia melhor! ;)

sexta-feira, 16 de março de 2012

Quando um cruzar deixa um lembrar…

Não via a hora de entrar no avião, me acomodar e apagar.

Meu lugar era o último e na janela. Perfeito pra quem queria só se encolher, encostar a cabeça e não pensar em mais nada.

Mas a moça sentada na poltrona do corredor perguntou se eu não queria mudar de lugar com o marido dela que estava lá no meio. Queria sentar na janela, o lugar dele era ao lado da saída de emergência, com bastante espaço, mas não era o que eu precisava, precisava de um lugar pra encostar a cabeça.

A moça sentada na janela pediu pra mudar de lugar porque o banco não recostava e um moço gentil se dispôs a fazer a troca. Achei que era muito abuso da boa vontade dele pedir para trocar comigo também.

Começamos a conversar e de repente era como se nos conhecêssemos há tempos. Demos risada, descontraímos, fiquei com vontade de conhecer o país dele e me dispus a recebê-lo na minha casa e apresentar-lhe um pouco mais do Brasil, nossas comidas e cultura. Era como se nunca mais fossemos nos separar.

O sono bateu e fechamos os olhos para dormir, mas nossa poltrona não reclinava e era extremamente desconfortável. Não entendo porque ela faz aquela curva que nos obriga a ficar com a cabeça pra frente! Não conseguia dormir de jeito nenhum. Até que uma hora aproveitei que algo o acordou e com muita cara de pau e um pouco de dengo, perguntei se já que dormiria no meu sofá quando fosse a São Paulo, se poderia deitar no braço dele pra dormir.

Só me arrependi de uma coisa: de não ter pedido antes!

De repente eu estava no melhor lugar do mundo e queria que o vôo demorasse pelo menos mais quatro horas. Mas faltava só uma meia hora, nunca imaginei que me incomodaria de chegar logo, mas foi. Não queria sair dali por nada do mundo!

Ele esperou eu pegar minha mala, descemos juntos, entramos no ônibus juntos e ficamos de frente, nos olhávamos, mas não sabíamos ao certo o que dizer. Vi que estava arrepiado de frio. Deu vontade de chegar perto, abraçar, aquecer... mas havia um senhor do outro lado que atrapalhava o curto e tão grande espaço de menos de um metro. Talvez o senhor estivesse ali, justamente materializando nossa incerteza.

Desci do ônibus, esperei ele, demos alguns passos e assim que entramos na parte interna do aeroporto, nos deparamos com um ser inconveniente dizendo: “conexões para lá î, saída para lá ->” :(

Fiquei perplexa. Como assim? Assim? Sem nem tomarmos um café? Queria ir com ele ou que ele viesse comigo, mas... foi assim: então tchau. Um beijo no rosto e um quase-semi-abraço.

Haha! Tinha acabado de conhecer a pessoa e esperava ganhar um mega abraço, desses nossos, que quando grudamos, não desgrudamos mais até ter certeza de que todas as células puderam se saudar, fofocar, abraçar e despedir devidamente! rsrs...

Continuei perplexa, mas ainda fui capaz de cobrar que me procurasse (sim passei meu contato, mas não peguei o dele, não aprendo!). Fomos cada um para um lado, cada qual para sua fila, lá de cima, podia ver ele na espera. Dava vontade de fazer algo, mas o que? A vida, apesar de às vezes parecer, não é filme.

Já diz a música: tristeza não tem fim, felicidade sim...

Vão-se as esperanças e ficam-se as lembranças. :P

Por algum motivo aqueles momentos estavam cruzados. Sem mais nem menos, foram especiais - e vão ficar guardados! ´:)

sábado, 28 de janeiro de 2012

Minhas companheiras se perderam no caminho

Minhas companheiras, não sei onde estão.
Alguém viu a minha força por aí? Não sei como, mas a perdi, e agora não consigo encontrá-la.
E minha alegria, alguém sabe onde se meteu? Ela estava sempre por perto e sempre dando risada!
Minha disposição então, não sei onde foi parar! Íamos a todos os lugares e tínhamos tantos planos!
Dizem que devem estar dentro de mim, mas não é possível! Eu sou tão pequena, e já procurei tanto...
Elas dever ter escapado pra dar uma volta e se perdido no caminho, só pode!
Se as virem por aí, digam que sinto muita falta, que a tristeza só me sufoca.
Peçam para que se guiem pelas estrelas ou pela lua, que não vou sair de casa.
Não vou a lugar nenhum sem minhas companheiras.
Vou ficar aqui esperando, porque sei que um dia encontrarão o caminho de volta.

quinta-feira, 19 de janeiro de 2012

Santa Chuva!

Hoje disse ao meu psicólogo que estava me sentindo seca. Seca de tudo.

Saindo de lá, prevendo o ônibus lotado somado ao trânsito, resolvi voltar a pé. Como estava de bota, lá pelas tantas, meu pé doía muito e resolvi sentar em um lugar gostoso que vi, sentei na mesinha de fora, tomei uma coca, fiz uma ligação, vi que ia chover, mas resolvi terminar de saborear o meu momento sem pressa.


Quando finalmente estava chegando, faltando uns seis quarteirões, a chuva avisou que estava chegando também. Até pensei que talvez fosse como outro dia conceder-me novamente a gentileza de se segurar para que desse tempo de eu chegar em casa, mas não. Veio que veio! Desafiou. Disse vem e eu fui!

Não tenho medo de chuva não. Tenho medo de viver semi-morta e encontrar a morte já sem vida.
Santa chuva! Quando cai me sinto viva! Sinto que lava e leva embora o que não presta... e preenche de vida!

Não quero morrer de dor, mas também não quero viver anestesiada. Quero encontrar um equilíbrio, quero ocupar o meu corpo todo, me sentir inteira, e assim... repleta. =)

Como diz a música: “que a chuva caia como uma luva, um delírio, um dilúvio; que a chuva traga alívio imediato... e que os muros e as grades caiam”!



Obrigada chuva por me trazer de volta! Amo sentir o seu vento, a sua potência, o seu envolver e essa mistura única de carinho e força que revigora! Adorei nosso encontro!

quarta-feira, 11 de janeiro de 2012

Tudo é exatamente como deveria ser?

É no que tenho procurado me apegar, cada vez que me vejo, mais uma vez, inconformada.

Na semana passada fui fazer um exame em uma unidade de saúde da prefeitura e saí de lá pensando nisso, em como realmente tudo pode ter sua razão de ser.

Quando cheguei não havia ninguém na recepção e nenhuma placa ou cartaz informando para onde deveríamos ir. Fiquei um tempo aguardando até que fui atrás de outro funcionário e descobri que podíamos ir direto ao local. Fui com outra paciente que também estava tão perdida quanto eu. Encontramos próximo à sala mais duas senhoras e ali nos sentamos e começamos a conversar.

Pouco tempo depois chegou um senhor que me perguntou se eu ia fazer exame de uma forma que me incomodou, sentou para aguardar conosco, mas me senti tão incomodada com a presença que resolvi ir ao banheiro e dali fui para o jardim que era bonito e agradável. Tirei algumas fotos, mas não demorou nada para o segurança aparecer e dizer que não podia nem tirar fotos, nem permanecer no local. Ou seja, fui obrigada a voltar à presença daquele sujeito.

Minha intuição não estava equivocada. A pessoa era extremamente desagradável, falava alto, não ouvia, só se gabava de feitos dele ou de amigos com relação a bandidos que entraram no assunto não recordo como. Não demorou muito para dizer que havia gostado mesmo de quando a polícia invadiu o Carandiru.

Difícil conversar com uma pessoa assim, mas não costumo desistir de cara e tentei um pouco, perguntando se fosse um irmão dele ou ele mesmo, alegando que só está na cadeia quem não tem dinheiro para pagar um bom advogado e tentando compartilhar a compreensão de que não sabemos o que aquela pessoa passou e, portanto, não deveríamos julgá-la. Disse algumas vezes que não julgava ninguém, mas começou a ficar difícil não julgar aquele ser a minha frente.

Começou a me dar dor de cabeça, sentia a energia pesada do indivíduo e resolvi simplesmente parar de dar atenção. Peguei um papel “meditativo” meu e dei para a única paciente que ainda esperava, também incomodada, uma cartilha sobre violência contra a mulher, para “caso conhecesse alguém que precisasse”, mas mais que tudo, claro, para poder não dar atenção para o sujeito, que ficou extremamente incomodado e logo, felizmente, foi chamado para outro lugar.

Assim que essa moça que era a penúltima entrou, a anterior que saia do exame se sentou comigo e comentei do absurdo que tinha ouvido e do quanto o sujeito me pareceu desagradável.

Foi aí que tudo fez sentido, pois, por conta disso, ela não só concordou comigo, como dividiu sua história: contou que teve um filho viciado, que acabou roubando e indo parar na cadeia por conta do vício, além de ter se contaminado com AIDS. Contou que na cadeia ele virou evangélico, conseguiu parar, e depois teve dois filhos: um que nasceu com o vírus e morreu bebê e outro que nasceu sem o vírus e está com 08 anos. Lamentava que a mãe não a deixasse ficar com o menino, que agora tinha como padrasto um cara nada legal.

Perguntei qual era o sonho dela e respondeu com água nos olhos que era ter o menino, que lembrava muito o filho, ao lado. Sugeri então que fosse procurando se aproximar aos poucos dele, antes que fosse tarde, e que se ele estivesse sofrendo mesmo maus tratos, poderia reclamar no conselho tutelar e até conseguir a guarda. Ela ficou um pouco emocionada e disse que o faria. Entrei na sala mais tranqüila e satisfeita com a conversa.

A doutora era uma figura, com quem conversei muito. Saindo de lá, ia passando por o que parecia uma simples vendinha, mas ao ouvir a música Estrela que ali tocava, senti que me convidava a entrar e aceitei. Descobri então que dentro também havia um café, onde sentei, comi, bebi e fiquei admirando o universo de salgadinhos e doces que vendiam, lembrando do tempo de escola...

Senti que era um dia iluminado, desses que compensam os momentos complicados; senti que tudo era como deveria ser e que fazia parte da magia, encanto e mistério deste mundo! =)

Mundo... hora bonito, hora estilhaçado, mas sempre intrigante e envolvente, sempre pronto para abraçar e ser abraçado!