sexta-feira, 16 de julho de 2010

Guardando gritos

Minha alma se sente presa querendo se expressar e sendo obrigada a deixar tudo pra depois pra que eu possa fazer as coisas atrasadas das matérias do mestrado que ainda preciso entregar! Não é algo que eu não suporte fazer. O que não tenho suportado é ter que fazer isso no tempo em que gostaria de estar descansando ou curtindo ou que poderia estar arrumando a casa ou escrevendo coisas que tenho necessidade de dizer, explicar, dividir...

Mesmo quando decido descansar, não consigo relaxar pensando em tudo que tenho que fazer, daí nem descanso, nem resolvo nada e mais me revolto pelo corpo não corresponder, não ter a disposição necessária para eu sair desse ciclo torturante! Nesta semana os barulhos parecia que me agrediam e fiquei muito mais irritada com eles do que normalmente, senti tonturas do nada e fiquei hipersensível à luz e seus reflexos – que nunca havia percebido que são tantos! Já não sei se não estou bem porque não consigo fazer as coisas ou se não as consigo fazer porque não estou bem! Ao que tudo indica son las dos cosas a la vez. :(

Para completar, de noite tenho sonhado tanto! Não consigo lembrar o que sonho, mas sempre acordo com a sensação de ter vivido ou feito um monte de coisas à noite! Estou quase deprimindo de não poder descansar, como se já estivesse há dias sem dormir, mas não é verdade! Ontem fui dormir cedo e hoje apaguei o despertador e dormi muito mais do que o normal! Perdi a hora completamente e cheguei no trabalho depois do meio dia! Pelo que dormi, deveria estar com disposição para passar a noite toda acordada, mas já posso sentir minha pilha descarregando. O que está acontecendo comigo? O que será que tanto faço nos sonhos? Queria tanto – ao menos – lembrar ou entender!

Bom, ao menos encontrei algo que é exato o que sinto: uma música linda, que até já conhecia, mas que agora não canso de escutar! :)

VOU MANDAR PASTAR

(Sandália de Prata)

Tenho estado sempre aflito
Por guardar em mim um grito
De rancor irresoluto incrustado nas idéias

Fui ficando esquisito
Com a fartura de conflitos
Vou vivendo o não dito e sofrendo as intempéries
De uma dor que é tão difusa
Torna as tardes inconclusas
Desencanta meus sentidos
E desmente o que se vê

Eu já tão desiludido
Apenas não acredito
Como ainda tenho gana de querer falar bonito

Vou mandar pastar
Vou parar de pensar pra viver
Pois quem tem muita pressa não pousa a cabeça em
nenhum lugar
Vou mandar pastar
Vou parar pensar pra viver

Pois só quem perde tempo é quem acha que não tem mais
tempo a perder

Fui ficando esquisito
Com a fartura de conflitos
Vou vivendo o não dito e sofrendo as intempéries
De uma dor que é tão difusa
Torna as tardes inconclusas
Desencanta os meus sentidos
E desmente o que se vê

Eu já tão desiludido
Apenas não acredito
Como ainda tenho gana de querer ganhar no grito

Vou mandar pastar
Vou parar de pensar pra viver
Pois quem tem muita pressa não pousa a cabeça em
nenhum lugar
Vou mandar pastar
Vou parar de pensar pra viver
Pois só quem perde tempo é quem acha que não tem mais
tempo a perder

sábado, 10 de julho de 2010

Somos soldados pedindo RESPEITO

Estava quase chegando ao Centro Cultural Monte Azul quando lembrei que precisava explicar pra Potyra (minha sobrinha de 9 anos que passou o feriado comigo) para onde estávamos indo. Contei que o vô Ralf havia convidado um Sargento do Exército... ops, tive que explicar o que era um exército, mas não foi difícil - graças aos filmes, porque graças a... Deus? (para poupá-los da explicação sociológica) não temos guerras! :) – difícil foi ela entender o porquê dele e o companheiro terem sido perseguidos, presos e expulsos, pois quando contei que o Exército não aceitava que ele tivesse um companheiro e não companheira, ela questionou imediatamente sem entender: mas por que eles não aceitam???

A Potyra realmente não entende e isso me emociona: ver que as nossas crianças estão crescendo com essa compreensão, vendo o que antes era tachado de errado como algo natural, afinal de contas, se duas pessoas se gostam, não tem o menos cabimento não poderem ficar juntas, seja pelo que for!

A conversa com o Fernando Alcântara foi muito boa, não dá para relatar tudo nos mínimos detalhes, mas quero ao menos destacar alguns pontos que chamaram atenção.

Diversidade da diversidade

Ao passar a palavra para o Sargento o Ralf falou do estereótipo que se faz do gay afeminado, o que não deve ser visto como regra, pois (como ele) há muitos gays que não são afeminados - e nem por isso são menos gays - ou seja, você pode "desmunhecar" e até trocar de sexo, mas não precisa: isso é a diversidade da diversidade. (Adorei a definição!)

Intransigente com a intransigência

O Sargento licenciado (pediu licença antes do resultado do processo de expulsão ser concluído, pois certamente demoraria e estenderia uma situação delicada, pra não dizer insuportável) nos contou um pouco do que conta no livro "Soldados não choram", de como caíram na armadilha com o convite do programa de TV que só tinha a intenção de bater seu recorde de audiência e conseguiu entregando o companheiro que tinha ordem de prisão por "desertor", acusado de ter abandonado o Exército quando na verdade estava com problemas de saúde que o impediam de retomar o posto.



Fernando conta que se recusava a entrar nos esquemas de corrupção e que foi isso que fez com que fossem atrás da vida pessoal dele, para poderem descredibilizá-lo perante as Forças Armadas. Sua vida tornou-se um inferno e foi o que fez com que decidisse levar a imprensa a sua história. E o que posteriormente o levou a licenciar-se, escrever o livro, envolver-se com organizações de direitos humanos (que intercederam por eles na ocasião do programa) e agora a sair candidato a deputado pelo PSB de São Paulo.

Que doida é a vida! A Roda da Fortuna, nesse caso, girou que girou! E temos que reconhecer que o Fernando foi muito homem para enfrentar e agüentar tudo o que passou. Segundo ele, tem uma hora que você já apanhou tanto que já não tem mais medo de nada.

Se tivéssemos mais gente levantando o peito no lugar de abaixar a cabeça...

Mas, enfim, sei que não é fácil. E é justamente por isso que o Fernando vem conquistando a admiração e o respeito de muita gente: por ter sido intransigente com a intransigência em um ambiente em que ser intransigente significa ser criminalizado, perseguido e penalizado.

O Fernando e seu companheiro têm uma história de vida e tanto – contada com detalhes no livro que não vejo a hora de poder parar para ler. Mas se vê que sua vivência lhe deu uma compreensão da realidade clara e sensível, no sentido de, por exemplo, perceber que ser gay rico e ser gay pobre são coisas muito diferentes. Já pararam para pensar nisso? Também gostei de ver que não está fechado nas questões LGBTs, está preocupado com as questões de direitos humanos nas quais os LGBTs estão incluídos, claro.

É isso: uma história que vale ler, ver, entender e acompanhar. E preciso dizer que a sensação de encontrar alguém assim, disposto a lutar, a ser forte no bem, é muito, muito boa! Desejo-lhes força e sorte! E festejo: mais um! TAMO JUNTO! :)

quinta-feira, 8 de julho de 2010

Somos soldados pedindo esmolas

montes de lixo e mais lixo pra todos os lados. calçadas com gente vivendo no lixo, vivendo do lixo, construindo mini-barracos. olham pra gente desconfiados. olhamos nos indagando como funciona aquilo, como aquela gente mora ali? procuramos disfarçar, mas por dentro estamos indignados e desesperados, deveríamos fazer algo. mas, o que poderíamos fazer? passamos com a perua e podem ver que somos da prefeitura. dizemos bom dia e parece existir um respiro de alívio. de que lado da prefeitura seríamos nós? os que vão tirar-lhes as coisas e expulsar dali ou os que vão salvá-los? na verdade, nenhum dos dois. gostaríamos de poder fazer algo, mas sabemos que não podemos. e no fundo, eles também sabem.

até que estamos fazendo nossa parte. há garis varrendo as ruas e caminhões retirando o lixo das caçambas. mas o lixo não acaba. e se há pessoas morando nele, já não é responsábilidade da subprefeitura, mas da assistencia social. sim, é tudo repartido. apesar de ser mais complicado, tem sua razão de ser. se a responsábilidade fosse da subprefeitura era capaz que varressem as pessoas e as jogassem no caminhão junto com o lixo e entulho. mas também não deixam de ser problema nosso, pois estão em nossa área. precisamos uma ação conjunta. mas já sabemos qual será o problema. não vão querer ir para um albergue em que só podem passar a noite, tem que respeitar regras e pegar fila pra garantir o lugar de dormir do dia seguinte de novo. não vão querer ser separados, nem levados para longe, onde há albergues. na verdade, dizem que há albergues suficientes, mas, quem acredita? há mais de 13 mil moradores de rua na cidade de são paulo. alguns não querem sair da rua, mas muitos adorariam ter uma casinha, um barraco, ou mesmo uma vaga em um albergue decente. sim, decente, porque se não for, é preferível ficar na rua.

procurando uma solução, lembrei de um projeto que uma construtora fez o ano passado com uma das assessoras (que já não trabalha mais na sub) para um grupo de catadores que moravam em um baixo de viaduto. o projeto acabou não saindo do papel, mas era lindo. seria um albergue modelo, com espaço para a cooperativa de recicláveis, canil e horta. entendi que ficaria muito caro e por isso decidiram transformar o prórpio baixo de viaduto em cooperativa, mas sem moradia. o lugar ficou lindo, e os catadores zelam e tem o maior orgulho do espaço, estão fazendo curso, tirando documentos, parando de beber. é um trabalho do qual me orgulho, mas que precisa ser multiplicado, pois é só uma gotinha no nosso oceano de problemas.

pensei que poderíamos aprensentar o projeto para a votorantin que está ali do lado desse monte de problemas, mas descobri que o problema do projeto foi o terreno que não conseguimos. só se pedirmos para a votorantin comprar ou seder o terreno também. mas então com o que a prefeitura entra? é a pergunta que a maíra me faz, alegando que deveria ser uma parceria - ambas partes precisam colaborar. até tento responder, mas ela me olha com aquela cara de quem diz: não adianta. digo que não custa tentar. ela continua com cara de quem diz: eu entendo e sinto muito, mas não adianta. fico puta. ouço ao fundo o renato russo cantando e assim me sinto.

somos soldados, pedindo esmolas...

a gente não queria lutar, a gente não queria lutar!

quem é o inimigo, quem é você?