domingo, 30 de maio de 2010

Interromper uma gravidez – parte I

Ok. Vamos falar um pouco de um assunto sério – e bastante polêmico. Venho topando com este assunto por vários lados e comecei a me dar conta do quanto é importante que falemos sobre. Como é delicado e tem uma série de detalhes envolvidos, vamos por partes.

Não vou ficar enchendo de dados porque não é difícil encontrar, mas coloco aqui, para começarmos a pensar, um filminho que vi no blog Viva Mulher - onde fiquei surpreendida e muito incomodada com o tom e moralismo exacerbado com que contestaram o post da autora. Fiquei realmente chocada com a maneira de atacarem as famílias que não são no padrão burguês - mamãe, papai, filhinho - ao mesmo tempo em que atacam com veemência a possibilidade de o aborto ser legalizado, sendo que isto poderia facilitar a realização do sonho dos mesmos higienistas que consideram tão importante ter uma sociedade mais padronizada, já que se facilitaria interromper uma gravidez quando esta não fosse considerada conveniente em determinado momento ou situação.



Os números são assustadores. A quantidade de mulheres que faz abortos é impressionante, chega a um milhão por ano - só no Brasil! Mas não é por ser algo, por assim dizer, comum, que se defende a legalização do aborto, como pensam alguns, mas sim pelo fato da vida dessas mulheres estar em risco, por ficarem a mercê da clandestinidade. Ter um filho é algo que muda a vida das pessoas completamente e, se avaliarem que não dá para encarar, não vão encarar. Seja legal ou não.

Significa que vão passar a utilizar o aborto como método contraceptivo como acusam os que são contrarios? Pelamordedeus! Fazer aborto não é coisa simples. É traumático! Não é como tomar a pílula do dia seguinte – que já tem seus efeitos. Ninguém passa por isso sem sentir nada. Não tem cabimento pensar que a legalização fará com que as mulheres deixem de se prevenir!

Coloco aqui o link do LOGIN – programa em que a Soninha conta sua experiência de aborto e que trata de forma muito séria e fundamentada a questão. E... se quiserem se indignar um pouco mais, vejam o projeto de lei que a Soninha comenta no seu blog, que vai exatamente no sentido contrário: Sobre o estatuto do nascituro - PL 47807l

O projeto não só pretende acabar com o direito de interromper a gravidez em caso de estupro com chega ao absurdo de propor que no caso de o estuprador ser localizado, tenha que pagar um salário mínimo para a mãe da criança, sendo que este deveria ser preso e, por conseqüência, não teria como pagar. Ou é preferível que fique solto para poder pagar um salário a uma pessoa que foi violentada e será obrigada a ter a vida completamente revirada? Ultrapassa a linha do absurdo! Não? O que essas pessoas têm na cabeça? Acham que o Exercito Industrial de Reserva vai acabar? Que com a diminuição da prole não terão mais quem explorar a salários ínfimos? Não sei nem qual Santo chamar para ajudar a clarear a mente dessas pessoas! Pelo Amor!

Enfim, pensem no assunto. Não acho que seja algo tão simples assim não. Para complicar um pouco, as outras duas partes do tema vão, de certa forma, procurar mostrar o outro lado. Reflitam mais um pouco antes de tirarem suas conclusões. ´: j


2 comentários:

jP Vergueiro disse...

Acho que você não chegou a ler o comentário que fiz no post da Soninha logo que ela publicou o comentário sobre esse Projeto de Lei, e acho que nem ela leu e se corrigiu.

O projeto de lei foi alterado por um substituto de uma deputada mineira e não mais prevê a supressão no código penal da possibilidade de aborto em caso de estupro (http://migre.me/KnH6).

A informação de ambas, portanto, está errada, e mesmo quando a Soninha publicou já tinha sido alterado na Câmara.

O projeto do Estatuto do Nascituro é muito legal sim, concede garantias ao feto, que é uma vida antes mesmo de nascer. A partir de uma boa leitura do texto podemos debater com calma onde encontrarmos divergências (http://www.camara.gov.br/internet/sileg/Prop_Detalhe.asp?id=345103).

Por fim, não há estatísticas sobre o número de abortos no Brasil. O número de "1 milhão de abortos" é um chute muito divulgado, mas justamente pelo fato do aborto ser autorizado em apenas três possibilidades (duas por lei e outra por jurisprudência), não se sabe de forma confiável quantos abortos clandestinos ocorrem no país. Podem ser mais de um milhão por ano (o que daria 1/3 de todas as concepções - http://migre.me/KnFZ) ou menos.

Beijão!

Ana Estrella Vargas disse...

Oi jP, é bom saber que já foi alterado. Imaginei que em algum momento precisaria ser, pois era absurdo demais.
Parece bonito o lance do Estatuto do Nacituro, mas não cheguei a ver ainda, então, não posso falar muito mais, mas temo pelo que possa sair daí, por mais que em alguns aspectos se faça necessário.
Obrigada pelo esclarecimento! :)