Sabe, eu realmente não queria falar sobre isso, mas… até no dia em que estava conversando com a Potyra ela veio com esse papo. Disse que eu tinha um monte de sobrinhos e que eu era a única dos seis irmãos que não tinha filhos. Falei que queria esperar mais uns anos para que ela pudesse me ajudar a cuidar, no que ela me respondeu que não era necessário, que dali uns meses ela já teria crescido o suficiente. Ela sempre me surpreende!
Dali uns dias chega um e-mail da minha mãe perguntando como alguém poderia ser capaz de matar o próprio filho e me pedindo que não "assassinasse" nenhum neto ou neta dela. (?) Até agora não entendi por qual motivo me pediu isso, mas para completar, enviou com cópia a todos os meus irmãos e cunhadas! Que confusão!
Fiquei encafifada! Queria ligar, mas não tinha como. Respondi perguntando o que havia acontecido, se ela sabia de algo que nem eu sabia e pedindo que não se preocupara, que eu não o faria. Dali a pouco começaram a chegar outras respostas:
A esposa do meu irmão mais velho não entendeu nada, mas pediu que mantivesse a calma e disse que ligaria para ela depois.
O Gunnar e a Titi responderam, mesmo sem entender o porquê da mensagem, que eram contrários a opinião dela (se diz assim em português?). A resposta dele – sempre provocativo – me incomodou bastante; a dela me pareceu absolutamente sensata, e tomo a liberdade de reproduzir trecho (sem pedir permissão, já que estamos em família):
"es una decisión muy, pero que muy personal de quien será la madre y ÚNICA responsable de ese FUTURO ser vivo, y la que tendrá que decidir si quiere y puede mantenerlo y criarlo. No debe dejarse llevar por concepciones divinas o moralistas.
Tiene que ser racional: conlleva mucha responsabilidad y pérdida de libertad. Si estás sola, y además no tienes todavía unas condiciones económicas buenas, supondrá además infelicidad y agobios. Es para ser racional y pensar si realmente es eso que quieres para un hijo, pues no es sólo poner un ser vivo más en este mundo porque así lo establece dios (?), es sobre todo hacerse consciente de las consecuencias que pueden llevar esta decisión. Sólo ella podrá decidir si lo podrá afrontar..."
Já o Gunnar, além de dizer que não entendia porque minha mãe não havia feito o aborto (dele), alegando que o preferia e deixando claro que não estava deprimido, pelo contrário, pois tudo está dando certo; escreveu o seguinte:
"não acho que um aborto seja algo irrecorrível, eu o faria hoje se por acaso viesse a engravidar alguma infeliz pra colocar mais um infeliz neste mundo".
Ok. Também não acho que seja irrecorrível, mas, apesar dos termos me incomodarem bastante, o que realmente não agüento ver é o "eu o faria" como se fosse ele que fosse fazer! E pior que isso, como se fosse ele que decidisse! O corpo é dela, o filho é dela, a decisão deve ser dela - já que a vida mais afetada certamente será a dela. E é aí que eu queria chegar: no papel do homem nessa história toda.
Mas vou deixar para a próxima - e espero que última - parte, pois a questão merece especial cuidado e atenção.