sexta-feira, 25 de janeiro de 2008

Marinheiro de primeira viagem, sofre!

Têm dias que preferiríamos que não existissem... ou que pelo menos, terminassem logo, o quanto antes. Mas são justo esses que resolvem se prolongar e ... não acabar nunca!


Não sei por que, mas fiquei mais ansiosa com a viagem de volta ao Brasil do que com a vinda. Bem mais. No decorrer do dia, meu estômago foi virando uma uva passa... mas ainda tive alguns bons momentos e apesar de ter comido muito pouco, comi a melhor paella do mundo!! Já, à noite, não foi nada fácil...


Quando carregava as malas (que sufoco!)... me sentia pagando uma penitência! Uma das rodinhas da mala (com uns 30 kg) quebrou, se perdeu no caminho para o metrô. Eu puxava e puxava arrastando-a para a frente, enquanto ela, feito um burro empacado, pesava mais e mais, quase me arrastando para trás.


Meu ombro direito doía muito de carregar a mochila (que apesar de estar só com uns 7kg, não é apropriada para carregar muito peso, e termina machucando. Acho que pela primeira vez na vida (ou uma das primeiras, não lembro) pensei no sofrimento de Jesus Cristo... e o invejei, por que pelo menos, depois de tanto sofrer, teve o alivio de morrer.


Morrer. Era tudo o que eu queria quando me disseram que havia perdido o vôo, que já estava fechado. Queria tanto, tanto a minha casa... e depois de 24 horas não estaria lá como esperava. Não sabia onde estaria. Não sabia nada.


Quando consegui parar de chorar, perguntei a dois funcionários o que podia fazer (eu amo os homens, eles sempre me atendem muito melhor!). Ele me explicou que o avião fechava 45min. antes de partir, foi então quando descobri que meu vôo saía às 22h30 e não às 23h15 como constava na minha passagem. O rapaz me disse que explicara isso na remarcaçao para não ter que pagar multa.

Mas para as atendentes a culpa era minha ou da agência de viagens. Não tinham nada com isso. Mas encontrei o rapaz de novo e me aconselhou a insistir porque teriam que me pagar hotel e tudo. Insisti, briguei, argumentei, chorei, mas nada podia amolecer o coração daquelas mulheres. E se quisesse falar com o chefe teria que voltar no dia seguinte após o meio dia.

Olhei para as malas e resolvi passar a noite no aeroporto. Pensei comigo que podia passar a noite escrevendo no notebook... o problema é que o zipper da minha mochila também arrebentou quando fui guardar a blusa. Tem menos de um palmo aberto, mas se eu mexer, ela abre e não fecha mais. O caderno... também está lá. De tanto olhar a mochila, achei uma solução: colocar tudo em sacolas grandes. O problema é que, se depois eu quiser dormir... não posso por ter que cuidá-las.

Há muitas pessoas aqui. Muitas dormindo em bancos que tem divisórias, imagino que para evitar que as pessoas deitem, mas elas deitam mesmo assim. Que pecado terao cometido? Pensei em conversar com alguém, mas minha timidez não permite. Dormir, mexer na mochila ou conversar com alguém? Fiquei um bom tempo indecisa, até que resolvi escrever no único verso de papel que tinha em branco dentro de minha bolsa.

Lembrei que um dia antes havia afirmado que não tinha vontade nem de voltar, nem de ficar. - Pois aqui estou, em um território de ninguém, sem ter como ficar (não tenho mais grana) nem ter como voltar.

"Cuidado com o que deseja" me diz uma voz interna. De imediato a outra responde: "Não acredito nisso, já desejei morrer tantas vezes, e isso nunca aconteceu." Agora mesmo vem a resposta: "Mas um dia vai acontecer.".

Bom este foi o presente que ganhei, ao desejar um fim, ganhei um dia sem fim.

(Vou procurar um canto para dormir, não aguento mais!)



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