quinta-feira, 8 de julho de 2010

Somos soldados pedindo esmolas

montes de lixo e mais lixo pra todos os lados. calçadas com gente vivendo no lixo, vivendo do lixo, construindo mini-barracos. olham pra gente desconfiados. olhamos nos indagando como funciona aquilo, como aquela gente mora ali? procuramos disfarçar, mas por dentro estamos indignados e desesperados, deveríamos fazer algo. mas, o que poderíamos fazer? passamos com a perua e podem ver que somos da prefeitura. dizemos bom dia e parece existir um respiro de alívio. de que lado da prefeitura seríamos nós? os que vão tirar-lhes as coisas e expulsar dali ou os que vão salvá-los? na verdade, nenhum dos dois. gostaríamos de poder fazer algo, mas sabemos que não podemos. e no fundo, eles também sabem.

até que estamos fazendo nossa parte. há garis varrendo as ruas e caminhões retirando o lixo das caçambas. mas o lixo não acaba. e se há pessoas morando nele, já não é responsábilidade da subprefeitura, mas da assistencia social. sim, é tudo repartido. apesar de ser mais complicado, tem sua razão de ser. se a responsábilidade fosse da subprefeitura era capaz que varressem as pessoas e as jogassem no caminhão junto com o lixo e entulho. mas também não deixam de ser problema nosso, pois estão em nossa área. precisamos uma ação conjunta. mas já sabemos qual será o problema. não vão querer ir para um albergue em que só podem passar a noite, tem que respeitar regras e pegar fila pra garantir o lugar de dormir do dia seguinte de novo. não vão querer ser separados, nem levados para longe, onde há albergues. na verdade, dizem que há albergues suficientes, mas, quem acredita? há mais de 13 mil moradores de rua na cidade de são paulo. alguns não querem sair da rua, mas muitos adorariam ter uma casinha, um barraco, ou mesmo uma vaga em um albergue decente. sim, decente, porque se não for, é preferível ficar na rua.

procurando uma solução, lembrei de um projeto que uma construtora fez o ano passado com uma das assessoras (que já não trabalha mais na sub) para um grupo de catadores que moravam em um baixo de viaduto. o projeto acabou não saindo do papel, mas era lindo. seria um albergue modelo, com espaço para a cooperativa de recicláveis, canil e horta. entendi que ficaria muito caro e por isso decidiram transformar o prórpio baixo de viaduto em cooperativa, mas sem moradia. o lugar ficou lindo, e os catadores zelam e tem o maior orgulho do espaço, estão fazendo curso, tirando documentos, parando de beber. é um trabalho do qual me orgulho, mas que precisa ser multiplicado, pois é só uma gotinha no nosso oceano de problemas.

pensei que poderíamos aprensentar o projeto para a votorantin que está ali do lado desse monte de problemas, mas descobri que o problema do projeto foi o terreno que não conseguimos. só se pedirmos para a votorantin comprar ou seder o terreno também. mas então com o que a prefeitura entra? é a pergunta que a maíra me faz, alegando que deveria ser uma parceria - ambas partes precisam colaborar. até tento responder, mas ela me olha com aquela cara de quem diz: não adianta. digo que não custa tentar. ela continua com cara de quem diz: eu entendo e sinto muito, mas não adianta. fico puta. ouço ao fundo o renato russo cantando e assim me sinto.

somos soldados, pedindo esmolas...

a gente não queria lutar, a gente não queria lutar!

quem é o inimigo, quem é você?

2 comentários:

F.I.O.N.A. disse...

mamita, existe el trabajo y el capital. La sub-alcaldía entra con el trabajo y la Votorantim con el capital, oras... Y si les parece mucho puede ser un conjunto de empresas, sobre todo "varejistas" que son los más perjudicados por la presencia de esos "moradores de rua", que no tienen cómo estar limpios y parecer bonitos sino todo lo contrario !

Hay que, por lo menos, intentar, ir a la lucha como David fue a luchar contra Goliath. Todos apostaron en el gigante Goliath pero ganó el pequeño David.

Ana Estrella Vargas disse...

Gracias mamá por enseñarme a creer que es posible y a no acovardarme solo por que soy pequeñita. :)

Ya veo que no fue solo Ralf que colaboró para que yo fuera así tan camicaz!

;)