segunda-feira, 1 de março de 2010

Andar de Ônibus (coisa de louco!) 2

Na quinta disse ao meu terapeuta que estou uma pessoa bastante equilibrada: um dia estou bem humorada, no outro mal humorada, um dia empolgada, no outro desmotivada. Isso quando não é por período, até o fim da tarde o humor é um, depois é outro.

Depois que saí de lá, como os amigos que pretendia encontrar desmarcaram comigo, fui para a PUC para ver se encontrava outras pessoas com que também estava tentando marcar. Deu certo! Consegui encontrar meu professor - com quem queria conversar desde o dia da minha defesa – assisti um pouco da aula dele e aproveitamos que teve que terminar mais cedo pra tomar um café. Depois, fiz uma horinha e fiquei pro aniversário da Mel – que também estava dando aula - numa pizzaria ali perto. Foi muito bom! Devo minha "carreira acadêmica" a eles dois... e tantas outras emoções! :)

Mas o assunto era o ônibus! E conforme diz o comentário no post abaixo: "é uma caixinha de surpresas". Na sexta, depois de ficar das 7h às 9h30 esperando pra ser atendida na Santa Casa, desisti de esperar, pois tinha uma reunião no Jaguaré dali uma hora. Chegando ao ponto de ônibus, com pressa e já meio irritada, me disse a mim mesma: "hoje é dia de estar de bom humor!". Ok, ok. De novo havia um ônibus parado e calculei que não daria tempo, mas quando me aproximei, achei que dava e fiz que ia entrar, mas dessa vez a porta se fechou e o ônibus foi embora, detesto quando isso acontece e por isso geralmente prefiro esperar o próximo. Não me importei muito porque logo atrás vinha outro para o qual dei sinal e que não sei por quantas não parou. Ok, o de trás parou. Também não sei porque, talvez devido à pressa, no lugar de me acomodar ao lado da janela, fiquei sentada no banco que fica atrás do motorista, mas do lado do corredor.

Um rapaz que subiu foi perguntar para o motorista se poderia "passar por baixo" (da catraca) e o motorista que a princípio disse "fica aí" o que achei legal da parte dele, em seguida começou a falar num tom que me irritou bastante "será que faço essa caridade, não sei não, tô pensando ainda", não olhei para o rapaz para que não se sentisse constrangido e respirei fundo. Em seguida o chefe dos transportes me ligou para avisar que o carro que havia pedido ia atrasar, me explicava o porquê quando o ônibus parou em um ponto e o rapaz arrancou o celular da minha mão e saiu correndo! O velhinho sentado no banco de trás ainda bateu com a bengala nele a hora que ia descendo, mas nem deu tempo de pensar em correr atrás dele e já estava tinha atravessado a rua e desaparecido. Foi tudo tão rápido!

Tinha trocado de celular na segunda, reclamando que esse mundo efêmero não era pra mim, que gostava do meu celular velho de guerra e que não gostava de celular novo porque chamava atenção e iam querer roubar. Mas sabia que não tinha outra opção, pois o contratos de telefonia celular da Prefeitura agora passarão para outra operadora (da Vivo para a Claro) e já estava me acostumando com o celular novo... mas nem deu tempo de colocar os contatos e já se foi! Anotei o nome do lugar para depois fazer o B.O. e fiquei pensando que era a primeira vez depois de muitos assaltos que me levavam algo, mas ao mesmo tempo lembrava que o outro ladrão havia sido preso mesmo sem ter levado o celular...

Por um bom tempo fiquei voltando o filminho tentando entender os porquês, fui o caminho todo do Jaguaré pensando em aproveitar que o aparelho tinha rádio para falar com ele, mas depois o moço que encontramos lá disse que tinha tentado ligar e que na certa o celular já estava desligado, pois caia na caixa postal direto. Isso tirou minhas esperanças de ao menos indicar ao rapaz um lugar que conheci que tem um trabalho muito legal com Liberdade Assistida (se não me engano) ali na Barra Funda.

Impressionante a quantidade de celulares que são roubados e que poderiam ser facilmente rastreados... quero acreditar que em breve farão algo para mudar esse quadro. Fiquei brava com o rapaz porque ainda por cima sua atitude queima o filme de quem vira e mexe precisa mesmo de uma carona e da depende da boa vontade de um motorista, mas fiquei mais brava ainda com o motorista que ficou se utilizando do seu pequeno poder pra humilhar o outro que acabou descontando sua raiva em mim, o que poderia ter sido pior. Depois ninguém entende porque neguinho surta e sai atirando! Toda ação tem causa uma reação, e qual seria a de alguém que não tem nada a perder, mas tem um monte de coisas acumuladas, enfiadas goela abaixo?

Não, não estou dizendo que sair roubando, brigando e matando está certo. Estou tentando dizer que muita coisa poderia ser evitada se pessoas que se consideram de bem não se entregassem a tentação da mesquinhez de impor seu poder, por menor que seja, da brutalidade desnecessária e da insensibilidade generalizada. Estou falando... da banalidade do mal? De como somos fracos no bem? Entenda como quiser, só não aceite, só não se deixe levar sem perceber, só não se conforme.


"Hay que endurecer, pero sin perder la ternura jamás."


Não é à toa que essa frase é uma das mais famosas do Che, que por acaso eu via todos os dias ao acordar quando era criança (como queria uma foto daquele quadrinho). A frase não é difícil entender, não? Acredito que não precise de tradução, mas se precisasse, diria que: "Precisamos ser fortes, persistentes e exigentes, mas sem perder o sorriso, o acolhimento, a simples conversa, sem perder a busca da compreensão nos olhos do outro". E quando nosso olhar se encontra, nossos olhos conversam e dividem o que talvez mil palavras não fossem suficientes para explicar, nesse instante a sua causa é a minha causa.



4 comentários:

Valter disse...

Olha... ótimas suas reflexões... ótimo texto... passei por algo semelhante há 1 mês atrás... sem justiça social não haverá as mudanças necessárias.

F.I.O.N.A. disse...

Mamita,

gracias por escribir este blog contándonos tus peripecias mentales. Siempre aprendo algo. Tu vida es una aventura maravillosa, osada, o tal vez la vida de cada una de las personas que viven en São Paulo.

Qué habrá escrito el ladrón en su blog?

besitos

Anônimo disse...

Repreensão: VACILOU! Novamente, não olha para os lados, sempre desatenta e pouco cuidadosa...
Condescendência: Pense só, vc num gostava do aparelho mesmo, pelo menos levaram :-D
Concordância: Realmente, falta, não como o velho e bom Valter disse, justiça social (que também falta, mas num é o principal), mas falta mesmo é humildade generalizada, sobra espírito de porco nas pessoas.
Discordância: que chavão mais militante essa foto do chê heim! :-P

Ana Estrella Vargas disse...

Obrigada pelas comentários todos! Cada qual ao seu modo... mto bom!
Caio, vc tem razão, mas nunca imaginaria que me roubariam o celular dentro do ônibus. Vivendo e aprendendo...

Sobre a foto do Chê, pra você pode parecer um "chavão militante" mas pra mim não. Pra mim remete diretamente a algo marcante na minha infância: um quadrinho velho (já manchado não sei se de chuva ou de mofo, ou dos dois) que ficava bem na frente da escada que decia todos os dias ao acordar. Desci aquela escada milhões de vezes, algumas vezes caí, outras apanhei, briguei, chorei... não lembro muito de rir, mas devo ter. O que sei é que ele sempre estava ali, olhando pra mim e dizendo "hay que endurecer, pero sin perder la ternura jamás". Também não lembro se na época entendia o que aquilo significava, mas é algo que procuro levar em minha vida cada vez mais, porque com ou sem Chê, é o que sinto que preciso.