Reconheço que politicamente ela pode sair prejudicada, mas o que admiro na minha chefe, dentre muitas outras coisas, é essa indisposição com a hipocrisia. Ela faz e pronto. E pronto: está causado o debate. Isso é rico e importantíssimo! Há coisas que melhoraram, mas não dá para fazer de conta que está tudo bem: muita coisa precisa mudar e, a reação das pessoas sobre a nudez, sobre a liberdade, sobre a coragem de uma mulher (porque será que incomoda tanto?), precisa no mínimo ser questionada e debatida! Qual é o problema afinal?
Não vou me extender. Vai abaixo mais um texto - um artigo pequeno e excelente sobre essa história. Aproveito para colocar o link de outro (acabado de receber) que também trata com sensatez a questão: Primários e pueris
ARTIGO - (Sub)Nudez castigada
FERNANDO DE BARROS E SILVA
SÃO PAULO - Parece até que essa gente nunca viu mulher pelada. A rigor, pelo que se noticiou, nem nua Sonia Francine está. A subprefeita da Lapa é na verdade uma "subpelada". A imagem é discreta, quase casta. Mas bastou para deflagrar uma onda pudibunda de indignação, insultos, baixarias. Estamos diante de um tribunal digno de uma farsa de Nelson Rodrigues.
Moralismo e o oportunismo político mais baixo se misturam na reação à foto para a "Playboy". Uma revista semanal filiada ao lulo-governismo estampou as imagens de Soninha e de Cicciolina lado a lado, comparando-as.
Sob o título "Eis outro plebiscito", a publicação diz que seu "voto" vai para a atriz pornô italiana. E conclui: "Se é para engrossar, engrossemos". Foram tão fieis a si mesmos que engrossaram até o vernáculo. Lemos ali que Soninha está em plena "ascenção política" -com C cedilha. Isso, sim, é ironia fina.
Por incrível que pareça, há coisas piores. Na internet, o blog de um jornalista a serviço de Dilma Rousseff, em torno do qual gravita o lúmpen do petismo, acolhe e estimula comentários francamente fascistas sobre a nudez, no intuito de atingir José Serra. Reuniu-se na rede uma horda de mercenários e linchadores -analfabetos morais que agem como filhotes de Mirian Cordeiro.
Mas há também uma reação à nudez genuinamente conservadora. Ela aparece em comentários do tipo: "Enquanto ela fica pelada, a praça continua imunda". Ora, é claro que a cidade não estaria em melhor estado se Soninha fosse uma freira. A subprefeita paga caro por ceder a uma vaidade frívola, embora inofensiva, quando os descalabros da administração Kassab vêm à tona e São Paulo afunda em águas sujas.
Sim, Soninha não poderia ter escolhido hora mais imprópria para atirar a roupa no Tietê. Mas, diante de tanta hipocrisia e cafajestada, poderia dizer, como o anjo pornográfico: "Não tenho culpa se o espectador resolve projetar em mim a sua própria obscenidade".
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