Mas, mas… definitivamente, não foi por mal. Foi uma ilusão a qual me apeguei imediatamente, porque queria que fosse verdade, pois em um momento bom, ideal e atípico, pensei que finalmente estivesse me acostumando e que fosse mesmo possível o que queria.
E eu só queria que fosse possível trabalhar e ter tempo e disposição para também estudar, sem deixar de me cuidar minimamente. Não deveria ser tão difícil assim, não é mesmo?
Só que a verdade é que há coisas com as quais a gente não pode se permitir acostumar. E o meu trabalho na UBS está bem aí.
Gosto muito das pessoas de lá e até gosto do meu trabalho, é simples e necessário, e eu sempre gostei de trabalhar com o público – porque sempre gostei de atender bem e receber esse retorno.
Os únicos problemas são que:
1. Não há ergonomia. O local foi mal projetado de forma que, pelo menos para a minha estatura, é quase impossível trabalhar e não sair com dor devido o balcão ser alto e a cadeira pouco regulável. O local do atendimento preferencial é apertado, mas menos desconfortável, o funcionário fica mais baixo e mas também escondido, de forma que o idoso ou deficiente tem que ficar de pé para ser atendido. (?)
2. Não há funcionários suficientes, de forma que durante a maior parte do tempo há um monte de gente sentada por duas a três horas olhando e acompanhando cada movimento nosso. Apesar de nem sempre reclamarem, sempre há algum tipo de atrito, causados ou pela demora, ou por não aceitarem as regras impostas pelo sistema, ou ainda, por desaprovarem o atendimento que para ser mais rápido, alguns optam por fazê-lo mais seco e direto.
3. São muitas horas para se trabalhar com o público, pois mesmo com o trabalho sendo mecânico e simples (marco consultas e faço carteirinhas), é estafante tanto pela pressão, quanto pela necessidade de ser ter muita, mas muita paciência (uns têm problema de audição, outros de compreensão, outros dão uma de loucos só porque passam na psiquiatria – ou realmente são, e muitos ficam indignados com tantas demoras: de atendimento, consultas e resultado de exames. Deveriam ser 4 no máximo 6 horas.
4. Faltam alguns materiais adequados básicos. Por exemplo: temos leitora de cartões, o que agilizaria o atendimento se não houvesse problema na impressão dos mesmo, mas das três impressoras que temos, uma solta a tinta, a outra imprime torto, e a outra, só funciona quando quer. Outro dia discuti com um paciente que reclamou que não havia um grampinho, na verdade havia, mas não cabia no grampeador que eu tinha levado de casa. Esta semana felizmente tivemos uma alegria dupla: “ganhamos” um grampeador e um quadro de avisos!
5. Falta salário, pois um base de R$ 646 é simplesmente indigno. Mesmo somando a gratificação-cala-boca que nos deram este ano, não chega a R$ 1000. Somando Alimentação, Refeição e Transporte e tirando os descontos vou receber por volta disso, mas me digam: quem vive com um salário desses em São Paulo hoje em dia? Eu respondo: muita gente, mas não em condições dignas. E o que mais me desespera nesse trabalho é perceber que não me sobra disposição para procurar outro, mesmo que só de complemento. Não dá, e vida sem vida, a gente não pode aceitar, nem se submeter.
6. Para finalizar, a insalubridade, decorrente de todos os itens citados acima se somando também o fato de as pessoas que procuram a UBS em sua maioria estarem doente, é certa: todos os dias saio de lá sentindo algo, dor nas costas, dor de cabeça, estomago doendo ou enjoado... só de remédio para os dois primeiros já gastei R$ 17,00. Mas isso pelo menos a Secretaria de Saúde reconhece e passarei a receber o Auxilio Insalubridade, e assim, terei somados aos meus proventos mais R$ 11,00 mensais (sim, onze reais!!!).
Pois é, e mesmo eu explicando tudo isso, ainda não me conformo. Mas fato é que esse trabalho me suga. Prova disso é que quando estou voltando para casa, às três da tarde, as pessoas que sequer me conhecem, me desejam bom descanso! E quando chego nem disposição pra ficar na internet tenho. Não quero nada que exija mesmo que um mínimo de mim, só quero descansar. Por isso parei de escrever no blog e quase não respondo mais comentários, não entro no twitter, não sei muito mais do mundo que não esse pequenino que vivo cotidianamente, e olhe lá!
Mesmo com tudo isso, no entanto, agradeço por ter ido parar nesse lugar. Não, não por ser um trabalho digno que tenho que agradecer a Deus que tenho, até porque, já deixei claro que não o é. Mas sim porque acredito que com tudo a gente pode aprender, e pra mim, que estava acostumada aos gabinetes, é uma experiência e tanto! Além disso, é bom se sentir de igual pra igual, não ser visto como privilegiado (apesar de eu ser a única que sai 45 min. mais cedo por não fazer horário de almoço). Mas o melhor de tudo mesmo, são as pessoas! Valeu à pena ter sofrido o que sofri por ter encontrado figuras que, de uma forma ou de outra, quero levar comigo pra sempre!
Só que agora que já pude conhecer tudo isso... é hora de me organizar pra seguir viagem, pois se não quiser acabar com a minha saúde, terei que sair dessa Unidade Básica de Saúde logo! Por isso tirei o dia de hoje para começar esse processo, que espero, seja breve.
Mas esteja onde estiver, não perdendo a alegria de viver e a consciência do que sou, o que quero e pra onde vou, de resto, vamos dando um jeito até tudo se ajeitar! Não é mesmo? ;)
3 comentários:
!bons ventos e bons rumos, sempre, Ana..
Obrigada! Que assim seja.. pra nós! :)
ay mamita! Pobre gente. Quién podrá substituirte? Vente para acá (pero sin los gatos que Severino los asesina).
besitos, que Dios te bendiga
Postar um comentário