domingo, 3 de outubro de 2010

Um FDS + Q Especial – parte III


Foi muito bom encontrar pessoas com quem caminhei como o Toninho Poeta e o Luan Luando - pessoa com quem tinha pouco contato, mas que sempre admirei muito! O Luan escreve muito bem. Sempre me impressionam suas poesias! É negro, pobre, deficiente e de uma sensibilidade e brilho nos olhos que não tem igual. Sempre alegre e pra cima! Este ano perdeu a mãe e eu simplesmente não soube o que dizer, mas desejei muito que fosse iluminado e ficasse bem. E esse ser iluminado que às vezes mais parece um Erê, foi quem me acompanhou a caminhada praticamente inteira. :)

O caminho era quase todo aquele breu. Como a noite estava nublada, a lua não nos iluminava. Mas o céu era o lugar para onde sempre olhávamos por ser o ponto mais claro, onde se podia enxergar algo. E o que mais se enxergava e fascinava era o contraste das folhas das árvores no branco do céu.

A estradinha era de terra. Era uma delicia, mas as subidas e decidas acompanhadas de seus buracos e pedras que não podíamos ver pela falta de iluminação dificultavam um tanto a caminhada. Obstáculo este que pude superar facilmente dando o braço para o Luan: assim, qualquer buraco, pedra ou escorregão inesperado era algo de pouca importância já que contava com o apoio que me dava a segurança de não cair e me esborrachar, assim como ele podia dispor dessa mesma segurança. Isso certamente fez com que eu pudesse aproveitar muito mais a caminhada.

Fomos conversando baixinho a maior parte do tempo. Em determinado momento pedi que me deixasse ficar quieta um pouco, o que coincidiu com o momento em que a garoa aumentava e pudemos ouvir uma festa de sapos, grilos e outros bichinhos cantando. Muito legal!

Eu caminhava e sentia que minha alma flutuava quando respirava o ar úmido com cheiro de terra, de mato, de eucalipto. Era bom demais, demais! Ia gastando a energia velha e me enchendo de energia nova. Queria caminhar sem parar até que não sobrasse nada que eu não quisesse mais!

Apesar das boas sensações, o desafio, a escuridão e o cansaço faziam com que me sentisse em plena provação. Mas foi uma provação boa, porque precisava demais me esvaziar, precisava demais lavar a alma e foi isso que a chuva terminou de fazer no final da madrugada. Caminhamos em baixo de uma chuva forte, que ia encharcando pelas beiradas, enquanto não encontrava uma brecha no que era impermeável.

A chuva estiou e o dia amanheceu. Percebi que passamos a olhar para o chão já iluminado. Não precisávamos mais ficar de braços dados. Podíamos andar mais rápido separados, mas também não havia necessidade de olhar constantemente para o chão. Procurava lembrar disso e não deixar de ver o céu e a mata iluminada, mesmo que isso também significasse ver propaganda de políticos e lixo no chão apesar de todo o afastamento.

Depois de aproximadamente três horas e meia chegamos à Vila onde estavam estacionados os carros. Já era dia, estávamos cansados, molhados e começando a ficar gelados por conta da roupa. Ainda faltavam duas horas de caminhada até chegarmos à cidade em São Lourenço da Serra, mas todos concordaram em parar por ali.

É difícil todos aceitarem parar antes do ponto traçado como reta final porque nos apegamos ao não desistir, ir até o fim, cumprir, superar o desafio. Mas já tínhamos aproveitado bem o caminho e continuar só nos desgastaria, machucaria e talvez até deixasse doente. Então foi prudente e sensato parar antes. Saber a hora de parar e respeitar nossos limites também é algo essencial para a vida e às vezes é a melhor coisa.

Vivi. Tive uma experiência sem igual. Curti, aprendi, me encantei, deixei, superei, resisti e terminei. Porque as coisas precisam terminar para que outras possam começar. Mas nunca vou esquecer o que vivi. Nunca vou esquecer esse caminho escuro, duro e encantador. Ele agora faz parte de mim e me enriquece e engrandece.

Um comentário:

Anônimo disse...

aaayyy!!!

NO ENCUENTRO UM FDS + q ESPECIAL - PARTES I E II

besitos
que Dios te bendiga