Neste 12 de outubro o bairro da Lapa completa 420 anos. Sua história, portanto, remete aos primórdios do povoamento de São Paulo de Piratininga. Segundo registros*
a primeira notícia da região é de 1561 quando os jesuítas receberam a sesmaria junto ao rio Embiaçaba, depois chamado Pinheiros. Embiaçaba, Ambiançava, Umbiaçava e variações, de origem Tupi, significa "lugar por onde passa" e designou durante três séculos a região lapeana. A então paragem de Emboaçava, no século XVI, se limitava com os campos de Piratininga (altura do Pacaembu), Aldeia de Pinheiros, Jaraguá (que compreendia Pirituba e Freguesia do Ó) e campos de Carapicuíba na altura do município de Osasco. O povoamento disperso, com sítios e fazendas, se fez lentamente a partir da construção de uma "fortaleza" para a defesa da Vila de São Paulo, situada além do rio Pinheiros, em 1590. Conservou, porém, o número reduzido de habitantes durante muito tempo. Entre os imóveis da Emboaçava, a partir de meados do século XVIII, destacou-se a "fazendinha da Lapa", assim denominada pelos padres da Lapa, pelo fato de a terem recebido em doação sob a "condição de se cantar uma missa cada ano à Virgem Santíssima, com o título da Lapa". Limita-se com os sítios: Água Branca, Mandi, Emboaçava e Tabatinguá. A sede – engenho e ermida da Lapa – localiza-se no caminho de Jundiaí, junto de um valo (ponto hoje designado pela avenida Brigadeiro Galvão Peixoto, aproximadamente nos arredores da avenida Mercedes e da rua Guararapes). Devido, porém, ser muito acidentado o terreno e por falta de mão-de-obra, decidiram os religiosos trocá-la no ano de 1743 com outra propriedade situada na baixada santista. Em 1765, toda a paragem de Emboaçava continha apenas cinco casas com trinta e um habitantes, sendo treze homens e dezoito mulheres.
A região da Lapa foi caminho de tropas, fazendo jus ao nome "Emboaçava" servindo como local de passagem. Por conta do rio e dessa passagem aos poucos a região foi sendo povoada por alguns agricultores (em sua maioria imigrantes italianos), pelos operários das olarias (que se beneficiavam do barro que era propício para a fabricação de tijolos) e das ferrovias (São Paulo Railway e Sorocabana). Posteriormente outras fábricas se estabeleceram na região, o que aumentou o número de habitantes e atraiu o comércio.
Em 1896 é fundada a Cia. Vidraçaria Santa Marina; em 1900 começam a funcionar as Oficinas da S.P.R. ; depois implantam-se a Cia. Mecânica Importadora (fabricando tubos e outros produtos de cerâmica), o curtume, a Martins Ferreira (na década de 10 fabricando produtos de metalurgia), a Fábrica de Tecidos e Bordados Lapa (1913), a fábrica de louças Santa Catarina (1912), a Fundição Mecânica F. Bonaldi e Cia. (1918), a Fiat Lux, a Cia. Melhoramentos, o frigorífico Armour (1919), a Metalúrgica Albion (1922), a fábrica de enxadas e implementos agrícolas Tupy (1923), as serrarias entre as estações da Água Branca e Lapa (como a Lamerião), além de outras.
A Lapa tem uma história rica, marcada pela luta dos trabalhadores por direitos, pela Cooperativa criada para dar suporte aos trabalhadores acidentados ou impedidos de trabalhar por doença, a reivindicação por transporte (do bonde, às jardineiras e ônibus), os diversos jornais de bairro. Mas também abrilhantam sua história a Banda Operária da Lapa, os cinemas e teatros, o carnaval, os piqueniques de final de semana e o futebol de várzea.
Os piqueniques aconteciam no Pico do Jaraguá; na Chácara do Major Paladino, atual Vila dos Remédios; na chácara do Salgado, atual cemitério da Lapa; ou ainda no rio Tietê, quando em pequemos barcos o pessoal saía rio acima. Nesses passeios, os trabalhadores encontravam-se e, com suas famílias, divertiam-se, dançavam, relembravam a terra natal e discutiam a política e o trabalho.
O futebol de várzea na Lapa nasce logo nos primeiros anos do século XIX. Cada time, com poucas exceções, possuía seu próprio campo, que se localizava, em sua maioria, na Lapa de Baixo, Vila Romana e algumas outras áreas desocupadas. O futebol de várzea era a grande sensação dos domingos ensolarados.
A maioria dos campos de futebol, porém, foi loteada. Construíram-se edifícios neles, como continuam sendo construídos em diversos outros locais, tornando-se permanente a problemática do número excessivo de habitantes. Mas quem não gostaria de morar na Lapa? Um bairro histórico, bem localizado, bem servido de transporte e demais serviços e que ainda possuí muitos moradores orgulhosos de seu bairro, preocupados em cuidá-lo e buscar-lhe melhorias – o que faz com que a Lapa tenda a ser cada vez melhor!
Assim, agradeço e parabenizo a todos os lapeanos e ao bairro da Lapa – lugar pelo qual me apaixonei e do qual tenho muito orgulho de morar e trabalhar por!
:)
*Referência e citações: LAPA – EVOLUÇÃO HISTÓRICA. Registros 12. Prefeitura do Município de São Paulo, Secretaria Municipal de Cultura, Departamento do Patrimônio Histórico – DPH. 1988.
** Publicado em vivalapa.wordpress.com
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