domingo, 27 de julho de 2008

Tião Reciclado - Cine Pólis


Dia desses fui ao Cine Pólis assistir um documentário chamado Tião Reciclado. Antes de começar o filme estavam passando o “Panorama – Arte na Periferia” filme de Peu Pereira mais uns amigos, que adoro ver, por que retrata muito do movimento artístico da Zona Sul, onde morei e “cresci”.

(As bandeiras do Brasil e do Movimento dos Catadores junto com placas reivindicando direitos básicos: moradia, saúde, educação, cultura, música, poesia, teatro, etc.)


Encontrei um amigo que estudou na minha faculdade, pessoa linda de corpo e alma, que trabalha com o movimento de população de rua; nos conhecemos em um Seminário de Inclusão Social Urbana. Lembro que naquele dia fiz uma pergunta (por escrito) ao então Secretário de Assistência Social, Floriano Pesaro, que simplesmente não foi respondida. A idéia é simples, mas depende de algo um tanto quanto raro: vontade política.


(O Daniel que se formou na ESP - acho que antes de eu entrar - vire e mexe nos encontramos nos eventos e butecos)

Minha questão era, e ainda é: “Por que as Secretarias de Serviço, Trabalho, Verde e Meio Ambiente e Assistência e Desenvolvimento Social não se juntam para fazer um programa com as pessoas em situação de rua para que sejam capacitadas como agentes ambientais, de maneira que possam fazer corretamente a coleta e também a conscientização ambiental boca-a-boca? Assim, recebendo por isso, poderiam sair da situação em que se encontram. Mas devem receber mais do que simplesmente o valor do material coletado, pois estão prestando um serviço a cidade, e se a outra coleta recebe (e saí caríssima aos cofres) por que esta não? Desta forma poderíamos atacar dois problemas imensos e gravíssimos da cidade: a ineficácia da coleta seletiva e o absurdo número – cerca de 12 mil – de pessoas morando nas ruas.”


(Fizemos uma roda imensa, tinha um monte de gente!)

Para nossa surpresa o ex-secretário, que agora está em campanha, estava lá. Teria eu a oportunidade de fazer-lhe novamente a pergunta, desta fez mais bem elaborada, podendo ser explicada verbalmente? Claro que não. Inútil ilusão! O homem não é besta, não ficaria lá para o debate, pois sabia que não lhe seria nada fácil, ficaria sem saber o que responder, no mínimo.

(Tião é o segundo, de blusa cinza)

Tião foi morador de rua por muito tempo, até que um dia se deu conta de que saber ler e escrever não era pouca coisa. Foi assim que começou a escrever e se envolver com conselhos representativos e movimentos de população de rua. Escreveu recentemente Diário de um Carroceiro, que foi representado em Teatro - no documentário há alguns trechos da peça.


(O sambista que foi preso quando tentava passar a noite dormindo na igreja, explicou o ocorrido e pediu desculpa aos colegas, precisa de outro instrumento pq o seu ficou preso, mas ñão por isso deixou de cantar um e outro samba, só na palma da mão. Foi lindo!)

O filme é muito gostoso, envolvente. O que mais me marcou foi ver ele filmando no gramado do Anhangabaú falando do prédio no qual ia às reuniões do Conselho na Secretaria de Coordenação das Subprefeituras, no mesmo prédio em que eu trabalhava. Era o mesmo gramado que eu cruzava pelas manhãs. Sempre ficava olhando as pessoas dormindo nele em cima de papelões, enrolados em cobertores cinzas que a SMADS distribui. As plantas quase sempre estavam floridas e os passarinhos sempre estavam por ali comendo sementinhas e migalhas. Os que já estavam acordados às vezes me surpreendiam com um “bom dia”... eu ficava tão feliz de poder ao menos retribuir esse simples gesto!

(A pequena de rosa é a Bia, filha do Anderson, se sente super a vontade com todo mundo, me lembrou minha sobrinha)

No Cine Pólis, Tião parecia se sentir em casa: estava rodeado de sua “família”, de suas pessoas queridas. Foi apresentando as lideranças e apoiadores ali presentes, feliz da vida! Ficou meio ressabiado comigo por ter contado que trabalho com a Soninha, que agora é candidata a Prefeita. Minha sorte foi que o Anderson, que está nessa luta faz tempo também, contou que naquela mesma semana precisou de ajuda e só pôde contar com a Soninha. E não é conversa: o quê nosso Chefe de Gabinete, que é a advogado, enfrenta, não é bolinho não. Na sexta passou praticamente o dia inteiro tentando impedir uma desocupação. Nas últimas semanas a Prefeitura tem pegado pesado, quer “limpar a cidade”. Na segunda (28/07) às 9h haverá manifestação na Praça da Sé para denunciar e protestar contra essa situação.

(O de boné branco é o Anderson, que sempre que preciso pede socorro no gabinete, também tem outra filha menor de quem a Soninha é madrinha)


Nenhum comentário: