quarta-feira, 11 de janeiro de 2012

Tudo é exatamente como deveria ser?

É no que tenho procurado me apegar, cada vez que me vejo, mais uma vez, inconformada.

Na semana passada fui fazer um exame em uma unidade de saúde da prefeitura e saí de lá pensando nisso, em como realmente tudo pode ter sua razão de ser.

Quando cheguei não havia ninguém na recepção e nenhuma placa ou cartaz informando para onde deveríamos ir. Fiquei um tempo aguardando até que fui atrás de outro funcionário e descobri que podíamos ir direto ao local. Fui com outra paciente que também estava tão perdida quanto eu. Encontramos próximo à sala mais duas senhoras e ali nos sentamos e começamos a conversar.

Pouco tempo depois chegou um senhor que me perguntou se eu ia fazer exame de uma forma que me incomodou, sentou para aguardar conosco, mas me senti tão incomodada com a presença que resolvi ir ao banheiro e dali fui para o jardim que era bonito e agradável. Tirei algumas fotos, mas não demorou nada para o segurança aparecer e dizer que não podia nem tirar fotos, nem permanecer no local. Ou seja, fui obrigada a voltar à presença daquele sujeito.

Minha intuição não estava equivocada. A pessoa era extremamente desagradável, falava alto, não ouvia, só se gabava de feitos dele ou de amigos com relação a bandidos que entraram no assunto não recordo como. Não demorou muito para dizer que havia gostado mesmo de quando a polícia invadiu o Carandiru.

Difícil conversar com uma pessoa assim, mas não costumo desistir de cara e tentei um pouco, perguntando se fosse um irmão dele ou ele mesmo, alegando que só está na cadeia quem não tem dinheiro para pagar um bom advogado e tentando compartilhar a compreensão de que não sabemos o que aquela pessoa passou e, portanto, não deveríamos julgá-la. Disse algumas vezes que não julgava ninguém, mas começou a ficar difícil não julgar aquele ser a minha frente.

Começou a me dar dor de cabeça, sentia a energia pesada do indivíduo e resolvi simplesmente parar de dar atenção. Peguei um papel “meditativo” meu e dei para a única paciente que ainda esperava, também incomodada, uma cartilha sobre violência contra a mulher, para “caso conhecesse alguém que precisasse”, mas mais que tudo, claro, para poder não dar atenção para o sujeito, que ficou extremamente incomodado e logo, felizmente, foi chamado para outro lugar.

Assim que essa moça que era a penúltima entrou, a anterior que saia do exame se sentou comigo e comentei do absurdo que tinha ouvido e do quanto o sujeito me pareceu desagradável.

Foi aí que tudo fez sentido, pois, por conta disso, ela não só concordou comigo, como dividiu sua história: contou que teve um filho viciado, que acabou roubando e indo parar na cadeia por conta do vício, além de ter se contaminado com AIDS. Contou que na cadeia ele virou evangélico, conseguiu parar, e depois teve dois filhos: um que nasceu com o vírus e morreu bebê e outro que nasceu sem o vírus e está com 08 anos. Lamentava que a mãe não a deixasse ficar com o menino, que agora tinha como padrasto um cara nada legal.

Perguntei qual era o sonho dela e respondeu com água nos olhos que era ter o menino, que lembrava muito o filho, ao lado. Sugeri então que fosse procurando se aproximar aos poucos dele, antes que fosse tarde, e que se ele estivesse sofrendo mesmo maus tratos, poderia reclamar no conselho tutelar e até conseguir a guarda. Ela ficou um pouco emocionada e disse que o faria. Entrei na sala mais tranqüila e satisfeita com a conversa.

A doutora era uma figura, com quem conversei muito. Saindo de lá, ia passando por o que parecia uma simples vendinha, mas ao ouvir a música Estrela que ali tocava, senti que me convidava a entrar e aceitei. Descobri então que dentro também havia um café, onde sentei, comi, bebi e fiquei admirando o universo de salgadinhos e doces que vendiam, lembrando do tempo de escola...

Senti que era um dia iluminado, desses que compensam os momentos complicados; senti que tudo era como deveria ser e que fazia parte da magia, encanto e mistério deste mundo! =)

Mundo... hora bonito, hora estilhaçado, mas sempre intrigante e envolvente, sempre pronto para abraçar e ser abraçado!

4 comentários:

abuelita poderosa disse...

mamita, qué bueno que volviste a publicar en tu blog... lo único que no me gustó fue tu presencia en ese lugar como "paciente". Bueno, no tienes la culpa, son los genes de Ralf, por lo visto su papá médico y su mamá solamente eran cariñosos con él cuando era niño si él estuviese enfermo. Perdóname si te disgustó que te dijese esto. Besitos, que Dios te bendiga.

Evelin. disse...

Você é admirável.
Eu desistiria bem antes de um cara assim. Para mim, existem pessoas que gostam de conversar e existem pessoas que querem estar certas.
Não perco meu tempo com o segundo tipo.

Beijos da toda-julgadora aqui! rs

Ana Estrella Vargas disse...

Imagina Evelin! Eu te entendo perfeitamente! É difícil ter paciência mesmo! Mas eu acredito que "nenhum ser humano é apenas monstro" sabe? E tento trazer pro humano, mesmo que a pessoa não concorde na hora (pra não dar o braço a torcer) pode que depois na hora de dormir acabe refletindo sobre isso e aos poucos mude suas supostas convicções. Quem sabe? Não vale se desgastar, mas uma tentadinha, não custa! ;)

Ana Estrella Vargas disse...

mamita linda, claro que te perdono por decir cosas desnecesarias solo porque no eres capaz de aguantarte las ganas de criticar o depreciar a mi padre, como sueles hacer desde siempre. pero mucho me extraña que tú que siempre nos preguntabas lo que era lo mejor que nos había pasado en el día estés justamente destacando lo que no te gusto... que ha pasado? besos!