domingo, 13 de abril de 2008

Indignação

Juro que não entendo como dava conta de trabalhar e estudar! Preciso começar a escrever meu trabalho de sociologia, mas antes, preciso muito escrever outra coisa:

Hoje estava deitada na minha cama sem fazer nada... ou melhor, aparentemente sem fazer nada: estava pensando (como sempre) e, de repente, me dei conta do custo de estar ali deitada, sem supostamente fazer nada.

Ando meio angustiada de perceber que minha idéia inicial de ficar só dando aulas de espanhol para poder me dedicar aos estudos no tempo restante pode não dar certo. Várias pessoas têm interesse em fazer aula, mas efetivamente, parece que nenhuma tem o suficiente para conseguir um horário, marcar, comparecer, pagar, etc.

Não que eu faça tanta questão assim de ensinar espanhol, mas... me aperta o coração a idéia de ter que abrir mão de minha casa ou minha faculdade. É o plano B, ou C, no qual não quero nem ter que pensar.

Estava tranqüila porque sei que as coisas não acontecem do dia pra noite, porém, contudo, todavia, as contas não deixam de vencer, e a proximidade do fato vai fazendo com que a ansiedade tome o lugar da tranqüilidade.

A outra possibilidade é conseguir outro emprego fixo, que pode demorar ou não, mas que significaria abrir mão dos projetos que quero escrever... o que não me agrada nada. Ainda assim, é menos pior do que ter que abrir mão da minha casinha.

Em casa me sinto como em um oásis! Apesar de ainda não ter conseguido arrumar a bagunça de papeis, textos e contas, já consegui deixar os espaços mais aconchegantes e agradáveis: me sinto tão em casa em casa! J é tão bom...

Mas aí me dou conta do quão absurdo é que eu seja obrigada a trabalhar para poder deitar em um espaço abrigado no qual me sinto bem. Quem foi que disse que a Terra estava à venda? Quem foi que loteou? Para quem pagaram? Eu pago R$ 0.74 por hora, para poder ter uma casa, indiferente de estar nela ou não. O normal seria não estar, do contrário, como vou pagar? E isso que há mais pessoas morando embaixo e encima, ou seja, estamos todos usando um mesmo pedaço de terra!

Não sou marxista, mas acho fantástico quando o Marx afirma que ninguém é dono da terra, “somente seus usufrutuários”. Mas estamos tão acostumados com ter que pagar para poder viver, que o absurdo nos parece o contrário, como pode ser?

Tudo bem termos que pagar pela comida, que apesar da terra não cobrar nada para fazer nascer, há pessoas trabalhando no plantio, colheita, transporte e disposição, mas, não termos direito a moradia digna é demais! Claro que alguém trabalhou para construir, mas com certeza, alguém saiu ganhando muito mais, e com certeza, não foi o trabalhador.

Mas o que seria do capitalismo se as pessoas não fossem obrigadas a trabalhar e começassem a pensar? Isto é, se essa oportunidade lhes fosse dada e nutrida na escola, se tivéssemos aulas de filosofia, sociologia, psicologia... com professores que dessem aula por gosto e não porque têm que pagar o aluguel!

Isso não significa que eu ache que precisamos implantar o comunismo ou socialismo. Isso significa que acho que é preciso repensar já. E que precisamos começar por mudar a forma de educar.

Quero trabalhar por uma educação encantada, que pare de formar trabalhadores competidores e rivais e passe a transformar as pessoas em criaturas sábias, que sejam capazes de compreender, ensinar, aprender e conviver. Que possam trabalhar em prol de sua natureza (não hobbesiana), interna e externa. Ou como diz o Manifesto pelo Reencantamento do Mundo: Ser Humano e Natureza parceiros, mundo e vida construídos como Arte.”

Se eu conseguir usar esta vida para colaborar com essa transformação de alguma forma, morrerei satisfeita. Se não, com certeza, a morte será o meu maior alívio.

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