Há muito ouvimos falar sobre a flexibilização das leis trabalhistas. Flexibilização que felizmente, nem chegou a ir a votação, no entanto, o mercado vai se transformando, com ou sem alteração de leis, e ainda por cima, dá um jeitinho de usar as existentes a seu favor.
Bom, depois que fui exonerada, pude perceber o quanto estava insatisfeita e até fiquei feliz com a idéia de trabalhar “por conta própria”: dar aulas, oficinas, participar de projetos, etc. A idéia de verdade me agrada, e foi a única maneira que encontrei de poder levar a faculdade a sério. O problema é que as coisas não são tão fáceis quanto gostaríamos, já estou há mais de um mês sem trabalhar, e as coisas começam a se complicar...
Felizmente, na quarta apareceu algo: fui assistente em uma entrevista com o Secretário de Planejamento de Santos, foi muito legal! Nem sabia quanto receberia, mas valia a pena de qualquer jeito, pois além de a entrevista ter sido muito boa, ver o mar... “não tem preço”... almoçar de frente pra ele tem, mas não fui eu que paguei! ;)
Na sexta de manhã, já tinha passado a noite acordada tentando terminar o trabalho de sociologia que deveria ter entregado na quarta, quando tocou o telefone. Era uma mulher de um instituto de pesquisas querendo saber se eu tinha interesse em trabalhar dois dias com eles. Claro que sim! Mas... pra quando? Hoje??? Olhei para o trabalho de sociologia, não queria ter que parar. O que eu ia dizer para a professora se na quarta já tinha dado a desculpa do “bico” que apareceu de última hora? Agora sim era de última hora! Não podia pensar muito, resolvi então perguntar: “qual o valor?” A pessoa me disse que precisava atender outra ligação e que já me ligaria de novo.
Enquanto ela não ligava fiquei pensando nas contas que ainda não sabia como pagar. Por mais que quisesse estudar, não podia recusar, principalmente porque era a primeira vez que me chamavam. A mulher estava demorando e me arrependi de ter hesitado e de ter perguntado o valor. Será que não voltaria a ligar?
Quando o telefone tocou de novo eu já estava pronta para dizer sim, indiferentemente de valor. Ela então explicou que pagavam R$ 50,00 por dia, mas como seria só meio dia, R$ 25,00. Nesse dia deveria confirmar alguns questionários de pesquisa, já no outro, que seria terça-feira, ficaria digitando e receberia R$ 0,50 por questionário digitado. Apesar do valor ser baixo, aceitei.
Alguns minutos depois já estava amargamente arrependida! Enquanto tomava banho xingava Deus e o mundo por ter que parar de estudar para ganhar R$ 25,00!! Mas já tinha aceitado, tinha que ir. Um amigo me ligou contando que iríamos visitar minha mãe em Teresópolis no final de semana, e fiquei mais revoltada ainda, pois não poderia ir: tinha que prestar concurso. Meses sem ver minha mãe e ia perder a oportunidade de ir sem ter que pagar nada! Quando descobri que o concurso seria só no outro domingo, a revolta passou e fui encarar o trabalho super feliz.
A pesquisa era sobre cosméticos (!!), o trabalho não rendia e as horas não passavam. Foi uma verdadeira tortura. A pessoa que me chamou explicou que tinha esquecido de avisar que para receber eu teria que participar da cooperativa, mas que se eu não quisesse havia outro modo de resolver a questão. Falei que tudo bem, mas depois que vi a burocracia que teria que encarar e me dei conta de que era uma cooperativa de fachada, decidi que não. Comuniquei no final do dia.
A notícia não foi bem recebida. A mulher chamou outra pessoa para conversar comigo que me explicou que pra continuar trabalhando com eles eu teria que me cooperar. Perguntei se eles sempre pagavam mal e falei que não tinha problema, pois não pretendia continuar. O rapaz, que eu já conhecia da faculdade, disse que não, que quando houvesse algo mais interessante eles me chamariam e dariam prioridade a mim por te me empenhado em uma pesquisa mal paga. Eu continuei recusando e ele disse que tudo bem, mas que eu demoraria um pouco para receber. Quanto? Uns 25 a 30 dias!! – Quase me descontrolo:
- Eu vou te matar! Deixei de fazer o meu trabalho de sociologia...
No final, fiquei de pensar e dar a resposta na terça. Se quiser me cooperar posso trabalhar, se não, não.
O mais legal e deprimente foi ter encontrado os meus veteranos da faculdade lá. Fui obrigada a perguntar:
- Não foi pra isso que vocês fizeram sociologia, né?
- Não, mas a gente tem que pagar as contas... fazer o quê?
As contas, as tais das contas!
No final das contas, não me arrependi de ter ido não. Tinha travado no trabalho de sociologia justo na parte da flexibilização do trabalho, que não me parecia algo tão ruim, porque ainda não sabia o que realmente era. Tive a oportunidade de ver e entender na prática!
O pior de tudo é que apesar de desaprovar completamente o uso da cooperativa dessa forma, estou pensando em me cooperar e ainda aceitar um outro trabalho de salário ínfimo no qual passei no processo seletivo. A vida passa, mas as contas não. Fazer o quê?
2 comentários:
Eu acho que as pessoas tem que ver esse lado de trabalho de um modo diferente.
Minha mãe ela trabalha de empregada doméstica,e as vezes ela nem está no seu horário de trabalho e a patroa dela manda ela fazer os trabalhos da outra empragada.
Quando é a folga dela a patroa já liga querendo saber aonde ela está por qua esta precisando dos cerviços dela.
Por isso que eu acho isso um absurdo,ela quase não tem direitos a nada.
D E S I S T O ! ! ! ! ! ! ! !
Hoje pela vigésima quinta vez, entrei neste blog e não achei nada de novo.
Parou ????
Parou por quê??????
Não pare não......
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