Moro em uma megalópole e, entre as estrelas que aqui vivem, ocorre algo previsível e preocupante.
Moro onde, há muito, megalomaníacos faziam de
tudo para ter mais dinheiro e poder, transformando suas competições e loucos
delírios na mais insana e caótica realidade.
Moro em uma megalópole, onde grandes
estrelas parecem minúsculas e onde estrelas de todos os tamanhos estão se
apagando e deixando de brilhar.
Moro em um país que tem 13 milhões de
estrelas tristes, e destas, um terço vivem na cidade onde moro.
Mais de quatro milhões de estrelas perdem
suas luas aqui, porque a energia que tinham caiu tanto que se sentem
monofásicas, e assim, não podem mais ver a luz refletida em suas ações.
Mais de quatro milhões tentam seguir “adiante”,
sem saber onde essa via vai dar, sem saber como dela sair, e, menos ainda, como
é que aqui se permanecerá.
Muitas das minhas visinhas tomam as “pílulas mágicas”
e seguem fazendo tudo igual, evitando pensar quê sentido faz, se é
que faz.
Muitas outras, no entanto, com ou sem as pílulas,
preferem parar para tentar entender e procurar uma saída ou outra via.
Mas, se por um lado, sair do turbilhão é
bom, por outro, se sempre vivemos nele, viver fora dele... é possível? Como
faz?
Daqui, não me parece haver espaço para tantas
estrelas juntas, por isso prefiro não arriscar - pois sei que fuigiria, me afinando até virar só
um fio de luz, mesmo sabendo do desgaste que geraria ao corpo.
Mas daqui, também achava que a saída era
real e estava próxima. Agora, já não sei mais o quanto da possibilidade de
voltar a brilhar é ilusão, desejo ou miragem.
Mas sei que o poço, na verdade, não tem
fundo. Ele vai e continua sendo infinitamente, até dar no imenso espaço, onde nos encontramos
com tudo o que criamos.
Milhares de peças que podemos ficar analisando infinitamente,
sem saber se são reais ou imaginárias, sempre tentando agarrá-las para
construirmos a escada de volta - bem bonita!
É por isso que uma estrela inativa pode
virar um buraco negro: porque nosso inconsciente é como o espaço sideral. É bom
olhar, conhecer, tentar entender, mas sem nunca se soltar do real.
Na megalópole, há de tudo: os que querem
nos vender a luz, os que ganham sem saber que existimos, os que pensam que se deixarmos
de existir poderão brilhar mais, os que têm certeza que é expertise pura, e,
claro, os que não se atrevem a dialogar para não contrariar - já que é certo que enlouquecemos
(porque preferimos dar passagem a quem não sabe frear).
Mas minha megalópole também tem tudo quanto
é tipo de artista! E eles sabem conversar, transformar, dividir, fazer caber,
recriar, provocar, mudar... e sabem que o que faz brilhar não é o figurino, nem
a lantejoula, mas sim a essência do ser humano, estrela por natureza.
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