sábado, 26 de novembro de 2011

Gotas d’água querendo parar Belo Monte

Alguém me perguntou se eu já havia visto o vídeo dos “globais” sobre Belo Monte. Não tinha visto e de cara não me interessou muito, mas devido ao tema que sim me interessa em demasia, assim que me deparei com o tal vídeo o assisti.

A sensação que me tomou foi de profundo agradecimento pela iniciativa de fazerem um trabalho como esse, que juntando pessoas de credibilidade, muita técnica e um modelo que já havia dado certo... comunicava. Mais do que isso, levava às pessoas a indignação que até então parecia de poucos, conquistando também assinaturas contra essa aberração.

Compartilhei no meu facebook, algumas pessoas curtiram e/ou compartilharam a partir dele, mas, para a minha surpresa, houve um comentário criticando o vídeo, dizendo, dentre outras coisas, que era para “convencer quem não pensa”. Pensei bastante antes de responder, esperei passar o mal estar da primeira leitura e escrevi o seguinte:

“Wick, também penso que Belo Monte precisa ser seriamente debatida, mas é difícil envolver as pessoas em mais uma coisa que depende ter tempo, leitura, compreensão, dedicação... já escrevi muitas vezes sobre Belo Monte e a repercussão sempre era muito pequena. A participação social tem um custo que muitas pessoas não estão dispostas a pagar, e que não sei se é justo cobrar, considerando tudo o que já "pagam" trabalhando, se deslocando, estudando sem ter condições, etc. Entendo seu ponto de vista, mas fiquei feliz por finalmente terem feito um material que comunicou um grande número de pessoas (pelo formato copiado que deu certo anteriormente em outra campanha) e certamente pelos atores que ao que parece alguma credibilidade tem. O que realmente me lembra Hitler é essa construção gigantesca, essa megalomania que vai contra toda e qualquer possibilidade de "desenvolvimento sustentável" ao contrário do que pregam. Com as obras começadas, somente uma ação como esta chamaria a atenção com a urgência que o tema requer.

A tréplica, devo admitir que me surpreendeu muito mais, tanto que, apesar de grande, não tive dúvidas de que merecia entrar aqui:

“Ana, obrigado....escrever consome tempo e sei que além das mensagens telegráficas do FB só se arvoram os apaixonados e bem intencionados.

Reconheço sua angústia e comungo da mesma. Entretanto, não tenho uma opinião formada tão clara assim sobre Belo Monte. Estou mais perto desse projeto e problemática do que a grande maioria das pessoas. Há mais de 20 anos que me envolvo com a Amazônia e o seu desenvolvimento, alem de ter tido em família um dos mais exuberantes cientistas amazônicos, meu padrinho e que me deu o nome. Aliás estive ha 2 semanas no norte do MT e sobrevoei um projeto da Odebrechet muito semelhante ao que vai ser Belo Monte, porem em escala menor. O município de Aripuana, no rio de mesmo nome. A tecnologia é a de minimizar o lago, usando turbinas em fio d’agua. Você sabia disso? Se fosse utilizada a tecnologia de Tucurui o lago seria imensamente maior. Em Setembro sobrevoei o Teles Pires, justamente onde será a hidroelétrica de Sete Quedas. Deu dó de ver o que vai sumir. No meu Facebook tem o sobrevôo...veja lá.


É impossível existirmos na Amazônia sem grandes projetos e potencialmente mega-impactantes. Se não houver um desenvolvimento racional da região, a Amazônia vai minguar por processos formiguinha, impostos por atores que vão desde gângsteres imobiliários, até índios inocentes. Todos pegam um pedaço, grande ou pequeno. Os que pegam pequenos pedaços são muitos, e os que pegam grandes também são muitos..... No ano passado as áreas mais desmatadas da Amazônia foram áreas indígenas, segundo algumas fontes. Desmando total em todos os níveis.

A questão fundamental pra mim é a seguinte: implementar projetos de larga escala sem impactos. Temos que vencer esse desafio e digo isso por desespero, pois no fundo a minha única crença para o futuro planetário humano é se tivermos uma população máxima de 5 Bilhões de pessoas no planeta. Nosso limite já passou faz tempo.... Acho mais fácil buscarmos vencer esse desafio tecnológico do que convencer nossa vil raça a parar de se reproduzir. Essa evolução de consciência deve levar no mínimo mais 100 a 200 anos....e provavelmente vai acontecer por liderança de um povo mais branco do que escuro..... e isso será horrível.

Eu não acredito que seja possível criar barreiras para o desenvolvimento irracional, no qual só se acredita no crescimento. Mas acredito em melhorar a condução desse desenvolvimento. Mais do que sermos contra algo que não queremos, temos que ser proativamente a favor de algo correto que queremos. Tem gente falando em parar crescimento e eu acho muito sábio, mas realisticamente isso só vai tirar a atenção das ações que tem possibilidade de dar um passo mais rápido do que o capitalismo selvagem e governança corrupta e inserir um novo programa no capitalismo para sustentabilidade. Eu acho que a chance é melhor.

Comunidades ribeirinhas são palco de muita corrupção política....mas tem uma reação positiva ao correto e ao digno muito mais forte do que você possa imaginar. Desde crianças ate os adultos.... aprendem rápido.

E é por isso que o que mais me deixa em dúvida é a governança. Eu quero acreditar que é possível fazer um projeto como Belo Monte e que não cause os impactos que estão alardeando. Lembre que tivemos Itaipu e Tucuruí como projetos que foram cheios de erros e merda atrás de merda. Mas o fato foi que gerou um aprendizado enorme e esse aprendizado esta disponível para Belo Monte. A sociedade tem que exigir isso. Hoje existem atividades fantásticas ao redor dos dois reservatórios, muitos exemplos de envolvimento comunitário e desenvolvimento sadio.

Não sou derrotista para a sua causa, mas acho impossível que Belo Monte não seja construída. Ela vai ser erguida gostemos ou não.

Eu não gosto da idéia de Belo Monte, assim como você. Preferia que não fosse construída, mas já esta sendo. E pior, depois de Belo Monte ainda vira Sete Quedas, no Rio Teles Pires....que também vai ser construída, também em terras indígenas. Sabe por quê? Por que tem um número muito maior de cidadãos que querem que seja, do que os que não querem, especialmente os cidadãos da região e que ficam olhando pra nós aqui do Sul maravilha tentando impedir o desenvolvimento deles..... para as pessoas da região, eu e você (e os artistas do filme) estamos muito mais pra americanos do que brasileiros.....

A questão indígena é a mais distorcida que você possa imaginar. Os povos indígenas no Brasil foram abandonados há muito tempo. Não vai ser uma causa dessas que vai resolver o problema indígena. Devemos ter muito mais esforço para isso e usar a usina como alavanca para a causa indígena é no mínimo uma vergonha.

SE você pedisse meu voto, eu votaria contra.... mas não por que eu ache errado o projeto, e sim por que a implantação do projeto não terá a governança que eu acredito ser essencial. Esse tipo de processo é muito corrupto e a melhor tecnologia nunca está disponível por uma questão financeira.

Podemos fazer um projeto melhor, reduzir o impacto, melhoria continua, processos de aprendizado e inteligência, plano de contingência, correções de curso, proteção dos recursos naturais e das populações, etc... mas para isso é preciso governança.

Eu sei que o que escrevo soa horrivelmente tecnocrata... mas não é isso. Acredite... tô prestando a atenção nisso faz décadas....e muito me corrói entender o que eu entendo.

Final feliz, só mesmo no filme do David Cameron....

O pior de tudo é o seguinte: os artistas do filme vão na festa de inauguração. Acredite nisso!!! Eles são ignorantes. Espere e você vai ver..... decoraram o texto bem decorado. Eu preferia que fosse você....mas não precisava tirar o sutiã. Aliás, tirar sutiã???? Um horror....fiquei muito decepcionado com o filme e em mim teve um efeito antagônico....de falta de confiança neles, daí a minha referencia à propaganda de Hitler....imagine o que o Karajan teve que fazer pra promover o Nazismo....

Compartilhei porque percebi que a vista do ponto dele é privilegiada sem por isso ser melhor, além de ter uma sensibilidade e sinceridade impares. Os grifos são meus, e não pretendo comentá-los, para mim, por hora, são para atenção ou reflexão.



Copio abaixo apenas parte da minha resposta e adianto que a volta foi o convite para um seminário que quero muito ir! “ECONOMIA VERDE NA AMAZÔNIA: DESAFIOS NA VALORIZAÇÃO DA FLORESTA EM PÉ – coloco os detalhes em comentário ao post para não bater recorde de comprimento! :)

"...acho que o que vejo sobre está bem resumido no post que segue, talvez resumido demais... mas basicamente o que penso é que poderíamos investir em um programa de capilarização da energia, que podemos fazer um estudo e ir implantando pequenos geradores de energia, resolvendo localmente o problema de acordo com a potencialidade da região... o que não consigo acreditar que fique mais caro no conjunto que essas construções monstruosas. Mas é algo que precisa ser melhor pensado e estudado, claro. ;)"

Para que esse monte de manifestações

Ah, sim! Vale lembrar que devido ao vídeo do Movimento Gota D’água chegamos neste momento a 1.101.099 (um milhão, cento e um mil e noventa e nove) assinaturas contra a construção da Usina Hidrelétrica de Belo Monte!