quinta-feira, 12 de fevereiro de 2009

O Trabalho

Sempre gostei de trabalhar. Não sei o que acontece, mas desde criança sofro desse mal. Chorava quando minha mãe me mandava dormir... Não sei se é do signo (sou capricórnio) ou se é sina mesmo.

Como cientista social, estudei bastante o tema e passei a defender mais ainda, com mais convicção e veemência a adoção de jornadas de meio período. Acredito que as pessoas deveriam ser proibidas de trabalhar mais de 6 horas por dia para que assim pudessem estudar, conviver com seus filhos, se envolver na melhoria da sua comunidade, se dedicarem ao que quisesse, ir ao cinema, teatro, ou ficar sem fazer NADA, por que não?

Sei que caminhamos no sentido contrário, mas quem sabe agora com essa crise alguém com um pouquinho mais de poder não tem coragem de defender a idéia? A esperança não pode morrer...

Certo, mas porque esta defensora trabalha tanto então?

Hmmm... acho que hoje posso dizer que juntamos a fome com a vontade de comer. Amo meu trabalho, tem suas limitações, tem bucha que não acaba mais, mas é fantástico a gente poder fazer o que acredita. São 40 km com muitos problemas e (esperamos) 4 anos. Queremos fazer tudo o que for possível para melhorar nosso pedacinho de mundo... por isso tenho trabalhado praticamente 24horas por dia.

Às vezes é desgastante por que quero terminar logo o começado, sei que há uma série de outras pendências aguardando e as coisas não param de chegar. De cada reunião sai uma listinha que às vezes não dá tempo de parar pra olhar, mas que a gente sabe que existe.

Na semana retrasada o que mais me pegou foi a desocupação de uma favela em área de risco que tivemos que “terminar”, a semana simplesmente não queria acabar. Chovia, era de noite já, tínhamos umas 10 famílias com um monte de crianças com fome e sem saber onde dormiriam. Compramos esfihas e as famílias foram encaminhadas para albergues, mas aquelas imagens me acompanharam o final de semana inteiro. A música Circo Incandescente do meu irmão não me saia da cabeça.

Na semana passada o duro foi superar minhas próprias expectativas. Queria tudo pronto para sexta: a coleta seletiva, nossa mini-bibliotequinha e a caixinha de sugestões. Marcamos uma conversa com os servidores no auditório para ter uma primeira conversa e explicar como essas três coisas funcionariam. São coisas simples, mas que representam muito do que queremos na nossa gestão: participação, consciência ambiental, cultura, bem estar e satisfação.

Não estava perfeito porque muitas pessoas não foram, houve uma falha no equipamento na primeira apresentação, na segunda a Soninha mal pode passar e também estavam faltando os cartazes explicando sobre os três itens. Apesar disso, não me estressei, talvez porque sei que fiz tudo que era possível, e não só eu. Toda a equipe que trabalhou para que estivesse tudo como eu queria.

Esta semana deveria ser mais tranqüila, me dedicaria a eliminar pendências (preciso parar de inventar um pouco, se não, não dou conta), fiz os cartazes mais simples com intenção de depois melhorá-los, só pra não deixar sem nada, da coleta seletiva é mais complicado e tem que espalhar, pretendia fazer ontem, mas depois que voltei do almoço, não consegui fazer mais nada. Não conseguia trabalhar, baixou um mal-humor, mal-estar sem explicação. Estava angustiada e só no final da tarde vim saber o porquê: meu amigo que estava internado tinha morrido.

Amigo, pai, mãe, irmão, mentor espiritual. O Wagner só tinha 31 anos, mas parece que terminou cedo sua missão aqui com a gente. Fui pra “torre” da Sub, um lugar onde podia ficar sozinha e encarar o céu, cara-a-cara, COMO PODIAM?? O céu estava carregado. Chorei, chorei, chorei, chorei e chorei. As nuvens se foram, a noite chegou... Queria ficar ali pra sempre, mas meu terapeuta queria me ver e resolvi ir. Quando fui desligar o computador vi um e-mail do meu pai em homenagem ao Wagner... quando vi as fotos, chorei de novo, recebi um abraço longo e apertado da Soninha e a desincumbência de trabalhar hoje.

Chorei de novo quando soube que não haveria velório e não poderíamos ir ao enterro. É a primeira vez que perco uma pessoa tão próxima, senti falta/necessidade de um ritual, como algumas pessoas não poderiam se reunir hoje, no Domingo vamos fazer um circulo como os que fazíamos quando ele morava com a gente.

Ai. Os vizinhos fizeram o favor de colocar uma música triste, dessas que se tocasse perto do Wagner ele não resistiria de fazer a dublagem. Que saudade Deus!

11.02.09 às 19h

2 comentários:

F.I.O.N.A. disse...

mamita

¿Circo Incandescente" no tiene mùsica?

¿Por què lloras la muerte de Wagner? ¿Por què todos lloramos las muertes de nuestros seres queridos? Es lo que a todos nos espera "aunque nos pese" como decía "Don Quijote de la Mancha". Llanto atrae màs llanto. Por favor, duerme, y sobre todo, ¡aliméntate bien! (ay, sè que no me harás caso, ¡Què rabia!)....

Titi disse...

Qué triste, Ana. Nao conheci Wagner, mas ouvi flar muito dele. Te acompaño en el sentimiento...